Meteorologia: O homem das “cinco estações”

Eduardo Anselmi tem no seu celular as condições climáticas das cinco estações que começou a instalar ainda no ano de 2003

Silvestre Santos
silvestre@ofarroupilha.com.br
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O advogado Eduardo Anselmi, diretor industrial e administrativo na empresa que leva o sobrenome da família, a Malharia Anselmi, é um estudioso aficcionado pelo comportamento e as variações do clima. Uma paixão que ele diz que vem desde quando era jovem e que, atualmente, o faz ter, literalmente, na palma da mão, dados climatológicos das cinco estações meteorológicas de sua propriedade. Uma delas, no alto do prédio da empresa que produz e comercializa malhas por quase todo o Brasil. As demais distribuídas na Linha Vicentina, em Farroupilha, outra na Fazenda Potreirinhos, da família, em São José dos Ausentes, e duas em Cambará do Sul, próximas do Cânion Fortaleza, vizinhas do Parque Nacional da Serra Geral.

No celular de Anselmi tem, por exemplo, as condições climáticas das cinco regiões, monitoradas por estações que começou a instalar ainda no ano de 2003. Durante uma viagem de treinamento na Alemanha, encontrou o equipamento na vitrine de uma loja e resolveu investir – cerca de 500 dólares – para iniciar a rede de estações que possui hoje. Essa primeira aparelhagem é a que está no alto do prédio-sede da Malharia Anselmi, em Farroupilha. Mas desde antes, lá em 1997, quando a empresa mudou-se para as instalações atuais, ele já acompanhava e registrava as temperaturas fazendo uso de termômetros, comuns. “Na verdade, quando comecei a ter acesso à internet, ainda no tempo da conexão discada, eu já buscava os satélites meteorológicos”, revela Anselmi.

O advogado-diretor industrial e administrativo admite que não chegou a realizar cursos para aprender sobre meteorologia, e que se considera um curioso quanto ao tema. “Sempre li muito, pesquisei, sou um estudioso do clima, aquecimento global, tudo que está relacionado”, enfatiza. Anselmi esclarece, por exemplo, que a estação meteorológica não permite fazer grandes previsões. “Elas registram as alterações do tempo e, por meio dos registros continuados, a partir de um determinado momento, dá paa entender um pouco o comportamento do clima”, diz ele.

E pontua ainda que a observação científica reduz “o achismo” e as interpretações enganosas que as pessoas fazem sobre o assunto. “Num ano em que caiu uma nevasca, as pessoas costumam dizer que o inverno foi muito rigoroso, de maneira geral, sendo que para ter uma precipitação de neve é preciso apenas uma incursão de ar frio que, as vezes, dura no máximo três dias. Então, o inverno não foi de um frio tão intenso só porque houve uma nevasca”, explica o aficcionado pela climatologia.

O interesse de Eduardo Anselmi pelo tema é tamanho que, ainda antes do advento da internet e da proliferação de emissoras de rádio que bloqueiam parte das transmissões sonoras, ele procurava ouvir as transmissões feitas no Uruguai e Sul da Argentina, para saber a temperatura e as previsões para o clima. Invariavelmente é a mesma situação que chegará no Rio Grande do Sul, até hoje, em não muito tempo, “desde que não ocorra um bloqueio como esse que causou todo o desastre do começo de maio”, lembra.

Uma das razões que fez Eduardo investir em equipamentos próprios foi o fato de os institutos não possuírem estações em Farroupilha. “O Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) só tem (estações) em Bento Gonçalves e Caxias do Sul, e acessar estes dados, até algum tempo atrás, era muito difícil”, comenta. Uma curiosidade citada por Eduardo Anselmi refere-se à temperatura divulgada pelas emissoras de rádio. “As vezes chega a ter uma diferença de cinco graus, porque colocam os termômetros de forma errada, em uma face Sul, ou em uma face ensolarada”, esclarece.

Nestas mais de duas décadas acompanhando o bom e mau humor do clima, Anselmi conta que uma situação que mais lhe chamou a atenção aconteceu em 2010. “Foi uma chuva de 90 milímetros no espaço de apenas uma hora, o que é um absurdo. Para se ter uma ideia, o dia que mais choveu, na nossa região, agora nesse desastre que houve, foi de 180 milímetros em 24 horas. Aquilo foi um cumulos-nimbus enorme, uma célula de tempestade que descarregou e, inclusive, alagou o subsolo da malharia. Como tenho a estação e vi o que estava marcando de precipitação, pedi para todo mundo tirar os carros, e foi o que salvou, porque encheu tudo de água”, contou.

Na palma da mão: Eduardo monitora o clima em diferentes pontos do estado por meio das estações meteorológicas que instalou. Foto: Silvestre Santos

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