“Mais difícil que fabricar facas”

Com esta frase que entrega o bom humor que lhe é peculiar,
o empresário Clovis Tramontina definiu a experiência de escrever um livro, para o qual foi elaborada uma tarde de autógrafos em Farroupilha, cidade importante não apenas para a empresa. Acompanhe na entrevista exclusiva ao Jornal O Farroupilha

O dia 4 de agosto foi marcado pela presença em Farroupilha, na Tramontina Factory Store, de um dos mais representativos empresários do país, Clovis Tramontina, que fez uma sessão de autógrafos de seu livro “Clovis Tramontina: Paixão, Força e Coragem”, que está em sua segunda edição e cuja renda será revertida às entidades beneficentes locais.
A sessão reuniu convidados, visitantes e imprensa. Conversamos com ele antes do evento para compartilhar com você, leitor, as ideias de um homem singularmente acessível e gentil, que por 30 anos esteve à frente de um negócio que produz mais de 22 mil itens para facilitar a vida das pessoas.
Foi ele quem tornou a empresa da família uma potência mundial presente em mais de 120 países.
Além das opiniões, as confissões sobre a experiência de escrever um livro e sobre o time do coração, o Internacional.

JF – Paixão, força e coragem são substantivos fortes. Foram eles que guiaram o senhor ao longo da vida?
CT –
Sem dúvida! Paixão porque sou apaixonado pelo o que eu faço, eu sempre digo que não trabalho, me divirto; força porque devido ao meu problema de saúde (esclerose múltipla) eu tenho uma força interna de querer fazer as coisas, fazer acontecer e a coragem porque todo empreendedor tem que ter coragem de arriscar, de investir.

JF – Falando em empreendedorismo, o que podemos antecipar de inspiração contida no livro para os empreendedores, em um momento difícil o que sugere aos empresários?
CT –
O livro tem boas dicas sobre o assunto, no sentido de ser otimista para que possamos não ver o copo meio cheio, mas sim como podemos encher o que falta? É preciso pensar grande e saber que hoje é melhor que ontem e amanhã será melhor que hoje. É assim que penso na minha vida.

JF – A Tramontina atravessou os 100 anos sempre tendo uma visão otimista de mercado e de futuro. Qual a visão atual da empresa sobre o Rio Grande do Sul e o país?
CT –
Nós somos otimistas sempre. Não paramos de investir porque entendemos que o mercado é muito grande, sempre digo o seguinte: se minha avó, meu pai e o senhor Rui, que passaram por guerras mundiais, venceram por que nós, que enfrentamos dificuldades muito menores que aquelas, não podemos vencer com melhores ferramentas e tecnologia? Temos tudo para vencer e a Tramontina tem na sua fortaleza as pessoas, a equipe, e a sua marca, isso faz com que sejamos bastante otimistas em relação a este ano e ao futuro.

JF – Como as pessoas foram citadas pelo senhor, a Tramontina sempre se caracterizou pela retenção de talentos e equipes de longevidade dentro da empresa. O senhor acredita que esta vai continuar sendo uma tendência ou os novos hábitos de trabalho e dos jovens podem mudar esta característica?
CT –
Houve uma mudança muito radical com a juventude, com as redes sociais, mas há algo importante: uma empresa para ultrapassar um centenário tem que ter valores e o nosso principal é a valorização da prata da casa. Eu faço perguntas quando um jovem está ingressando na Tramontina, uma delas é por que ele escolheu a Tramontina? Escuto de volta que é uma empresa que tem um propósito de ser inovadora e que investe na sociedade em que atua, outra resposta é que é uma empresa que dá oportunidade. Eles veem que aqui na Tramontina nenhum gerente, no Brasil ou no mundo, é recrutado de fora, muito ao contrário, são frutos da casa. Esta é uma maneira de reter as pessoas. Claro que os jovens querem tudo em uma velocidade muito rápida, mas dou a dica: já viu um piloto de Fórmula 1 já começar pilotando a F1? Primeiro tem que começar a correr de kart e depois vai mudando, vai ser piloto de teste até chegar a ser piloto de Fórmula 1. Leva tempo e para conseguir qualquer coisa dentro de uma empresa também vai ter um tempo de maturação. Importante as pessoas entenderem isso para vencerem na vida.

JF – China ou Estados Unidos? Quem em sua opinião vai liderar o mundo daqui para frente e como o Brasil poderia ocupar um espaço maior no cenário?
CT –
O Brasil já é protagonista mundial porque o país vai ser o grande fornecedor de proteína animal e vegetal para o mundo. Não vamos esquecer que a cada quatro pessoas uma é alimentada pelo o que se produz no Brasil, então há uma oportunidade incrível neste aspecto.
China e Estados Unidos vão liderar juntos porque um depende do outro: as maiores aplicações financeiras dos chineses estão nos Estados Unidos e o maior fornecedor dos EUA são os chineses, que produzem de maneira econômica. Os dois vão liderar e a China será o grande fabricante mundial. Não vamos esquecer da Índia que vem por aí com seus mais de um bilhão de habitantes!


JF- Farroupilha no foco agora. Entre tantos momentos especiais da Tramontina com Farroupilha, qual o senhor considera o mais marcante? E da sua relação pessoal com a cidade?
CT –
O início foi muito marcante quando meu pai Ivo e o senhor Rui viram a possibilidade, junto ao prefeito Maggioni, com a criação do distrito industrial de Farroupilha e nisso convidaram o dr. Mário Bianchi para que plantássemos raízes no município. Esta fábrica trouxe para a Tramontina como um todo o conceito da qualidade, das coisas bem-feitas. Depois o lançamento da nossa loja a T- Factory Store, um ponto de turismo, de atração de pessoas que passam pela nossa região.
Particularmente, dois filhos casaram com farroupilhenses e moram em Farroupilha. Dos três filhos, dois estão em Farroupilha e três dos meus seis netos também. Então veja como é importante Farroupilha para a Tramontina!

JF – Neste momento da sua vida, como o senhor enxerga a si mesmo?
CT –
Sou alegre porque penso que a vida é um presente de Deus, a única coisa que não concordo com Ele, e já discuti isso com Ele, é esta coisa da morte, que acho uma baita de uma bobagem, mas tudo bem… (risos) Por outro lado, se não fosse a morte a vida não teria graça, então a gente tem sempre que olhar os dois lados! Me sinto realizado e torço para que as coisas vão bem, para que as pessoas se realizem na vida, herdei do meu pai, que vibrava com o sucesso das pessoas.

JF – Como foi a experiência de escrever um livro?
CT –
Mais difícil que fabricar facas! Mas foi divertido! Entre choros e alegrias, debates e entrevistas foram dois anos de trabalho, estimulados pela minha filha, que me deu o livro “My White Book” e sugeriu que eu escrevesse minha história. Aí veio a pandemia e comecei a colocar no papel a infância, adolescência, minha ida a São Paulo, minha doença e assim foi. Montamos uma equipe e fizemos o livro, que me proporcionou uma alegria imensa quando foi concluído. Fiquei muito feliz com o resultado do que fizemos, uma linguagem simples, mas bem consistente!

JF – Para terminar, o Inter ainda vai ganhar algum título neste ano?
CT-
Vai ser campeão da sul-americana e acho que campeão brasileiro também (risos)… isso é brincadeira, mas que vamos estar entre os quatro primeiros, vamos!

REPORTAGEM: Claudia Iembo