Ida Benvenutti falece aos 80 anos e deixa importante legado sobre empreendedorismo
Farroupilha se despediu no sábado, 9, de uma das pioneiras tanto na indústria como no comércio
direto de malhas, onde contribuiu para tornar o município conhecido nacionalmente como a capital da malha
Ela estava internada no Hospital da Unimed em Caxias do Sul, onde tratava uma infecção intestinal. Ida sofreu uma isquemia cardíaca e acabou falecendo.
Determinação, força, coragem e persistência foram algumas das qualidades desta empresária que fizeram da sua trajetória um registro importante para o desenvolvimento do município.
Ao longo dos seus 80 anos, Ida representou com maestria o espírito guerreiro e empreendedor feminino, se tornando uma personagem fundamental da história de crescimento e desenvolvimento da cidade, e deixando um legado de peso para as futuras gerações.
Natural de Feliz, Ida se mudou para Farroupilha com 14 anos. Logo começou a trabalhar aprendendo o ofício que iria ser o responsável pela criação da marca consolidada no mercado há 59 anos.
Desde pequena sabia que não seria somente mais uma, mas alguém que faria a diferença. Estava predestinada e o mais importante, já trazia no sangue o espírito empreendedor que impulsionou a realização dos seus sonhos.
Em Farroupilha ela casou e começou a construir sua família com a chegada dos três filhos, Adelaide, Agnaldo e Adriana. Neste período não poupou esforços para ter seu negócio próprio e poder oferecer à família mais conforto. O início não foi fácil. Trabalhava durante o dia e a noite, na pequena casa onde residia, confeccionava peças infantis.
Com o tempo resolveu se dedicar apenas à sua empresa, alugou o espaço no mesmo endereço em que a malharia encontra-se até hoje, na Barão do Rio Branco. Com isso, em 1962 nascia a Malharia Paniz, em plena atividade até os dias atuais. Nos últimos anos, Ida dividia com a filha Adelaide tarefas na administração.
Forte, decidida e perseverante, nos últimos anos ela se dava ao luxo de ter um horário mais flexível, mas engana-se quem pensa que ela não acompanhava de perto tudo o que acontecia no seu empreendimento.
Conforme destaca a filha Adriana Paniz, Ida sabia exatamente o que queria e onde desejava chegar. “Ela sempre foi intensa, determinada, justa. Quando tinha que dizer algo, bom ou ruim, ela dizia, era a sua essência”. Ressalta. “Ela era nossa fortaleza, motivando a seguir em frente. Hoje, ao acordar e desejar um bom dia, ela teria dito: Bom dia, seca as lágrimas atrás das cortinas. Confia em Deus, coragem…vai e recomeça. Ela foi uma mulher que fez uma história e deixou um legado muito forte. Restam agora as belas lições que ficarão na eternidade por ela ter tocado de alguma forma o coração das pessoas que tiveram a oportunidade de conhecê-la”, enfatiza Adriana.
Em uma entrevista feita pelo Jornal O Farroupilha, em 2016, questionada se faria tudo da mesma forma, Ida respondeu sim, porém, que cuidaria mais da saúde. “Eu trabalhava dia e noite, levava meus filhos pequenos para a malharia, pois tinha que ficar de olho neles. Mas sempre enfrentei os problemas de cabeça erguida, buscando soluções. Nunca pensei em desistir, mesmo tendo enfrentando muitas dificuldades no início. Sabia onde queria chegar”, salientou. “Passamos por tempos difíceis, mas sempre superamos, através de muito trabalho e acreditando que tudo iria dar certo”, complementou.
Nesse período de mais de 50 anos vivenciando cada etapa da empresa, Ida também acompanhou o desenvolvimento do município, as mudanças ocorridas e as crises econômicas e sociais. Conforme ela, embora o cenário tivesse mudado e novas dificuldades aparecessem a todo o instante, os sonhos jamais poderiam ser interrompidos. “Mudanças sempre vão ocorrer, mas até onde pudermos vamos em frente, trabalhando sempre, seguindo a vida”, costumava falar.
Em 2013, Ida recebeu o título Cidadã Honorífica, a distinção mais antiga que a Câmara de Vereadores de Farroupilha concede, desde 1964. Para ela foi um reconhecimento pelo trabalho e por ter podido contribuir de alguma forma para o crescimento do município.
Sem medo de empreender, mas pensando em cada passo, se organizando. Esse é a lição que a mulher, mãe, avó, bisavó, amiga, empresária, empreendedora e pioneira deixa, tanto para a geração atual quanto para as futuras, pois o fundamental para o crescimento é coragem e persistência.