Duas vezes alemã
A registradora civil da cidade, Silvana Hart Schneider, se inseriu entre os descendentes de italianos e tira o melhor das culturas, mas sempre honrando suas raízes, tipicamente alemãs
Ela carrega dois sobrenomes alemães: Hart, do pai, neto de alemães, e Schneider, do marido Roberto. Há 31 anos Silvana deixou a terra natal, Estrela, de colonização alemã e que hoje enfrenta os desafios de ter passado pelas enchentes que castigaram o estado, para abrir seu cartório de registro civil em Farroupilha, depois de ter passado em primeiro lugar em um concurso público.
“Quando cheguei a Farroupilha estranhei tudo, afinal eu vinha de um lugar quente, onde as pessoas ficavam pelas ruas, em happy hour. Hoje, não troco esta cidade rica em oportunidades, não me imagino longe daqui. Até a comida italiana disputa espaço com as preferências alemãs como a salsicha bock e os doces. Nunca teve um almoço lá em casa sem sobremesa”, brinca a bisneta de alemães.
Dos sabores típicos também nascem algumas memórias de infância de Silvana, que chegava da escola e atravessava a rua para ir à casa da avó Maria Olívia ver o que havia para comer. “Sempre me lembro dela fazendo algo bom para comer e de meu avô trazendo frutas para nós. Tenho muito orgulho destas raízes porque eles venceram dificuldades e se esforçaram por seus filhos, que puderam proporcionar tudo para mim. Se meus bisavós não tivessem tido coragem de sair da Alemanha para uma terra distante, eu não estaria aqui também”, resume a história dos antepassados.
Silvana cresceu com a forte presença da cultura alemã. O lado materno de sua família, cujo sobrenome é Eckert, sempre comemora o Kerb, a festa da colheita, típica das comunidades alemãs aqui do sul. Ela ainda conta que seus avós quando não queriam que as crianças soubessem do que falavam, conversavam em alemão. “Me arrependo de não ter aprendido o idioma. Meu marido entende bem a língua, mas eu, não”, confessa.
Por falar em marido, ela e Roberto não perdem um baile alemão e o mais recente do qual participaram foi há alguns dias, em Caravaggio. “Claro que como uma boa descendente de alemães, adoro um chopp e se tem baile, nós vamos”.
A alegria por exaltar suas raízes alemãs só é ofuscada pela situação em que se encontra sua cidade natal depois das chuvas de maio. “Estrela está em uma situação triste. Confesso que ando preocupada com os parentes por lá”, diz.
Outro fator que tira o brilho da alegria alemã é o desempenho do time do seu coração, o Grêmio, do qual é Cônsul na cidade. “Não queria ser tão fanática assim, é algo que determina até meu humor. Estamos sem a Arena e confesso que os jogos me fazem muita falta”, afirma, ainda lembrando que segue com sua preferência pela azul até nas unhas.
Há dois anos, Silvana inaugurou seu cartório na Rua Independência, 99, no dia 2 de abril, aniversário de suas duas avós, filhas de alemães. Neste pouco espaço de tempo viu o trabalho aumentar significativamente. “Muitas pessoas buscam a cidadania italiana e eu lamento não poder tirar a minha alemã porque meus avós teriam que ser alemães, além disso, hoje é preciso certidão atualizada para tudo, então o trabalho aumentou sim e também recebemos mais pessoas por conta da nossa sala de casamentos, que continua me trazendo alegrias. Percebo que as pessoas estão celebrando o casamento civil de forma mais especial, trazendo os convidados para a ocasião”, diz feliz.
Silvana está inserida em uma rotina intensa de trabalho, agora mais acentuada por ter assumido interinamente o tabelionato de notas de Nova Milano, além do CRVA, Centro de Registro de Veículos Automotores de Farroupilha e de Carlos Barbosa. A família, marido e os filhos Bruno e Roberta, sabem como é a mãe.
Ela segue o ritmo sem pensar em parar, adaptou-se ao “jeito gringo” e mantém a franqueza necessária para alimentar vínculos sinceros, algo tão típico dos germânicos dos quais descende.
REPORTAGEM:
CLAUDIA IEMBO
claudia@ofarroupilha.com.br