O dom de acolher

Alguém que tem nome de estrela é o brilho na vida de muita gente que chega à idade avançada e

Alguém que tem nome de estrela é o brilho na vida de muita gente que chega à idade avançada e precisa de cuidados, de paciência, de carinho. Dalva, do Recanto das Borboletas

| Claudia Iembo
| Especial

      A sociedade é preconceituosa e critica muito quem coloca um idoso numa casa de repouso. Há críticas porque não há conhecimento e é preciso conhecer para depois opinar. A frase é de uma mulher que dedica a vida aos cuidados com os mais velhos desde que tinha 12 anos de idade. Hoje ela gerencia duas casas de repouso na cidade. Dalva Beatriz Borges da Silva, do Recanto das Borboletas.
       A história desta farroupilhense poderia ser a de qualquer pessoa: pais separados quando ela era criança, contato com o pai José apenas aos 19 anos de idade, mais sete irmãos. Mas a vida de Dalva ganhou a direção que ela escolheu pelo dom que tem consigo de acolher os idosos.
       Esta característica faz dela a pessoa que é, a borboleta mãe, que cuida de 36 homens e mulheres que chegaram à idade avançada.
       Aos seis anos Dalva foi atropelada, o que lhe custou dois anos sem andar. Curou-se e mais tarde foi ser a companhia de caminhadas de um senhor. Deu tão certo que acabou cuidando de duas filhas dele.
       Casou-se jovem. Tornou-se técnica de enfermagem e teve dois filhos: Débora, de 34 anos, e Éderson, 28 anos.          Está em seu quarto casamento e é avó de cinco netos. A família fica meio de lado por causa do meu trabalho. É preciso ter muita dedicação com os meus avozinhos, analisa, já que é a pessoa que os leva para os médicos, quem faz as compras para as casas, cuida da farmácia e coordena uma equipe de 29 profissionais.
       O companheiro de hoje, Alceu, é filho de dona Rosa Maria Beltrame Rosado de Aguiar, senhora que cuidou por cinco anos e a borboleta inspiradora. Foi por causa de dona Rosinha que nasceu o Recanto das Borboletas, em 2010, conta, orgulhosa da missão que cumpre.
       Em 2011 abriu outra casa de repouso no bairro Santa Catarina e expandiu o carinho. Mas nem tudo é alegria. A convivência com os mais velhos a obrigou a lidar com as perdas. Faço terapia para lidar melhor com a morte porque somos uma família. É complicado viver com isso, mas faz parte do caminho que escolhi e não me arrependo disso, afirma abrindo um largo sorriso.
       Aos 52 anos ainda é cedo para pensar em sua própria velhice, mas confessa que é um alívio constatar que a vocação foi trasnmitida. O filho Éderson e o neto Yuri demonstram a mesma aptidão que ela. Tenho certeza de que alguém vai continuar meu trabalho e espero que quando estiver bem velhinha alguém da família me cuide bem. Não só a mim, mas ao meu marido e ex-maridos também, confessa.
      A filha da dona Eva, já falecida, faz questão de citar os nomes dos irmãos, por parte de mãe e de pai: Ana, Carlos, Fátima – que a ajuda no Recanto – Damião, Naira, Marlete e Wilson. Valoriza os laços familiares. Dentro e fora das casas de repouso.
     Detesto que chamem casa de repouso de asilo. Somos um lar, cheio de amor, de carinho e estamos abertos para as pessoas nos conhecerem e tirarem suas próprias conclusões, enfatiza.
      As famílias que deixam seus parentes aos cuidados de Dalva pagam suas mensalidades, mas mais que isso, confiam nela para fazer com que sejam bem assistidos em suas necessidades neste inverno da vida. Com dignidade, com respeito e com amor.