Mulher e volante combinam… e muito

O Jornal O Farroupilha sempre homenageia os motoristas. A cada ano, histórias de profissionais que se realizam no exercício do ofício. Desta vez, retratamos uma motorista de ônibus. Mulheres como Fernanda Agusti conduzem passageiros e suas próprias vidas

Em tempos passados, a menina de 13 anos de idade não imaginava que o aprendizado transmitido pelo pai Dorvalindo se transformaria em um ofício amado por ela anos mais tarde: dirigir. Começou a trajetória trabalhando em malharias e quando se viu sozinha – após a separação do marido e com um filho de apenas quatro anos de idade, o Bruno – tratou de descobrir uma renda extra. Foi parar atrás do volante de um ônibus, onde se realiza e pretende ficar. Esta é a Fernanda Agusti.

Aos 39 anos ela chega a se emocionar quando fala do tanto que gosta da profissão. Com lágrimas nos olhos ela reconhece que a necessidade a fez descobrir o sentido de sua vida. O que parecia o fim revelou-se um satisfatório recomeço e há seis anos ela integra os 37% de motoristas mulheres da empresa Bento Transportes.

“Eu estava sozinha, com uma criança para criar e pensei: o que eu sei fazer de melhor? Como sempre ouvi que dirigia bem, fui fazer a carteira especial para ganhar um extra. Cheguei a pedir dinheiro emprestado para um vizinho e quando consegui a carteira, fui distribuir currículos”, resume Fernanda, que diz que foi nesta fase de procurar emprego que sentiu o preconceito pelo fato de ser mulher e querer ser motorista de ônibus.

Segundo ela, hoje, ao volante, nunca sente preconceito pelo fato de ser mulher. Pelo contrário: sente a admiração dos passageiros. “É muito carinho por parte dos passageiros, a gente ganha presentes em datas especiais e ganha até lanchinhos. É muito gratificante! Não quero fazer outra coisa, eu amo dirigir meu ônibus”, assume.

Fernanda circula pelas ruas da cidade das 11h às 19h30 e em algumas semanas do mês, também das 6h às 7h30.

Nunca sofreu um acidente, “apenas um carro foi parar embaixo do ônibus, quando saiu desgovernado de uma rua, no final do jogo de 7X1 na Copa do Mundo de 2014”, relembra. Nunca sofreu um assalto, mas já pôs marginal para correr. “Eu estava cobrando as pessoas na entrada, quando vi um jovem tirar a carteira da bolsa de uma senhora. Quando chegou a vez de cobrar dele, perguntei para a senhora se não estava faltando nada na bolsa dela, ele se apavorou e jogou a carteira. Botei para correr”, conta. 

Vale reforçar o fato de que as estatísticas comprovam que as mulheres oferecem maior segurança ao dirigir, pois são menos agressivas e batem pouco.

A vida de Fernanda entrou na rota depois de se tornar motorista profissional. Descobriu o prazer de fazer algo que realmente gosta, consegue cuidar do filho Bruno, hoje com 11 anos, e até comprou o próprio apartamento. “Uni duas coisas que gosto muito, dirigir e conhecer pessoas. Acho o máximo poder fazer parte de um pedacinho do dia de cada um que sobe no ônibus”, diz.

Ela afirma que leva muito a sério o compromisso que tem por causa das pessoas que dependem da condução para seu cotidiano. É um comprometimento que cria vínculos e o fato de ser mãe, acaba fazendo a diferença no cuidado com os jovens passageiros que transporta. “A gente acaba conhecendo as pessoas. Tem dois irmãos que sempre vêm comigo, um dia subiu o mais velho e eu fiquei procurando o menor. Quando olhei no pátio da escola, lá estava ele. Buzinei e chamei o garoto. A gente acaba se envolvendo, não tem jeito”, revela.

Todo este cuidado que parece ser inerente às motoristas do sexo feminino também é comentado pelo gerente da Bento Transportes em Farroupilha, Gustavo Toniolo. “As motoristas são muito cuidadosas e o índice de reclamação de usuários é quase nulo. Nós percebemos a paciência com os passageiros idosos, a atenção delas com as crianças e jovens e até mesmo com os próprios ônibus. Elas são especiais”, assegura.  

Assim como especial é a apreciação de Fernanda pela profissão que abraçou e ela ainda tem uma opinião muito bem formada sobre o que é ser uma motorista. “Ser motorista se resume a uma palavra: respeito. Respeito com o trânsito, com as leis, ao cidadão, aos passageiros, à empresa que te dá a oportunidade de exercer o ofício e a si próprio por fazer o que ama. Eu sei a diferença entre fazer o necessário para ganhar o pão e fazer o que realmente dá prazer”, ensina a motorista que aprendeu a gostar mais de dirigir um ônibus do que um carro.

Se cada pessoa possui seu lugar no mundo, ao que parece o de Fernanda é atrás do volante de um ônibus.