Do que você sente saudade?

O Jornal O Farroupilha, aproveitando o Dia da Saudade, 30/1, foi buscar o alvo da saudade de alguém. Entre os depoimentos, a constatação da nostalgia que provoca bons sentimentos, assim como a dor que se instala no pior dos lutos que pode existir. “ A saudade é um vazio cheio de tudo”.

Uma época que não volta, alguém que se foi, um lugar…. Em tempos de pandemia, de distanciamentos, o sentimento ganha proporção maior. Imagine, por exemplo, a saudade de um médico em poder mostrar seu sorriso a um paciente! Existe saudade que pode ser resolvida, enquanto outras não. 

O Jornal O Farroupilha, aproveitando o Dia da Saudade, 30/1, foi buscar o alvo da saudade de alguém. Entre os depoimentos, a constatação da nostalgia que provoca bons sentimentos, assim como a dor que se instala no pior dos lutos que pode existir. “ A saudade é um vazio cheio de tudo”.

 


 

“Tenho saudade das conversas simples de bodega, aquelas que falamos com a boca e com os braços de tantos gestos que usamos, de poder abraçar meus amigos, da liberdade e da espontaneidade que tínhamos antes e não valorizávamos tanto! Hoje temos que nos esquivar de certas situações para nos proteger por causa deste vírus. Mas tenho certeza que vamos voltar mais fortes depois da vacina.

O Brasil é um país solidário, de gente cativante e espontânea, principalmente pelo interior e não apenas da serra gaúcha. Se é feita uma campanha para arrecadar 100 quilos de alimentos, arrecadam-se 200 quilos! Logo vamos voltar a nos expressar de forma calorosa”.

Odir Crocoli, agricultor

71 anos, pai de cinco filhos que formou com o trabalho na terra. Já foi presidente da Cooperativa Forqueta, por 12 anos, e atualmente está em plena colheita da uva que produz e feliz com o resultado deste ano, cerca de 10 toneladas.

Felicidade também por pertencer e se dedicar à comissão administrativa que organiza a celebração da Romaria Votiva de Nossa Senhora de Caravaggio, que vai até 2/2, e é realizada para festejar a colheita dos agricultores da região, para agradecer e pedir proteção à santa.

 


 

“Cheirinho de uva no ar, ronco de tratores e caixas empilhadas por todo lado: sinais de que iniciou a safra da uva. Boa parte da minha família trabalha na agricultura e não seria diferente na casa dos meus nonos. Desde pequena, eu acompanhava meus pais embaixo das parreiras, sendo esse o local que eu passava minhas tardes durante os meses de janeiro, fevereiro e março.

 Embora achasse jeito para brincar, eu também queria ajudar. Por isso, espalhava caixas debaixo das videiras para adiantar o trabalho dos demais. Mas e tirar uva? É claro que eu não alcançava, mas esperava semanas para chegar naquele lugarzinho que tinha uma “taipa” – muro de pedras – onde eu conseguia colher alguns cachos de uva (ver foto acima).

Conversa era o que não faltava. Dá para dizer que a época de colheita era o meu período de intensivo para aprender o dialeto. Como é bom recordar e perceber o quanto aquelas tardes eram prazerosas. Sinto saudade! Hoje em dia, os poucos momentos que consigo colher uva me fazem recordar e valorizar ainda mais minha infância e a vida na agricultura”.

Gleici Trois

Jornalista, 24 anos, trabalha na Rádio Miriam Caravaggio há 5 anos, fazendo reportagens e apresentando o programa Miriam Comunidade. Nascida em Farroupilha, Gleici é filha única e mora com seus pais na Capela de Todos os Santos (Busa), 1° Distrito. Nestes tempos de pandemia não deixou de trabalhar, levando notícias para os ouvintes da Rádio fundada por Dom Benedito Zorzi em 1956.

 


 

“Ultimamente, não encontro mais as palavras certas para dizer as coisas. Falar do Ricardo é falar de alegria, é falar de brincadeira, é falar de carisma, é falar de uma coisa imensa, tão imensa quanto a saudade que a gente sente dele!

São oito anos de ausência, mas parece que o tempo parou lá atrás. A vida é dividida entre antes e depois do Ricardo. Assim é para mim, assim é para meu outro filho, Luiz Eduardo. A gente reza, a gente faz tudo que pode ser de melhor, mas eu, por exemplo, só tenho vontade de chorar. Com o tempo devia passar isso, mas não passa.

A gente segue a vida porque a gente tem que continuar vivendo, mas é bem difícil viver sem ele, é muito difícil! Eu achei que ia passar com o tempo, mas parece que a dor só aumenta”.

Rosaura Paraboni

65 anos, mãe de Ricardo Custódio (foto), falecido aos 27 anos no incêndio da Boate Kiss, em 27 de janeiro de 2013, em Santa Maria.

Nesta semana, o incêndio que provocou a morte de 242 jovens e deixou 636 feridos completou oito anos. A tragédia foi causada por um artefato pirotécnico usado pelos músicos da banda que se apresentava no local e até hoje os réus aguardam o júri popular, que não tem data para acontecer.

 


 

“Sinto saudades da minha infância, na cidade de Santa Rosa. Tempo de acordar às 8h, tomar um copo de achocolatado e comer uma fatia de pão com chimia de uva que a mãe fazia em casa. De ver desenhos na TV, fazer os temas de casa (não gostava muito na verdade). À tarde íamos eu e minha irmã para escola, ver os colegas, amigos e professores. Não via a hora de chegar o recreio e ir jogar bola. Ao final do dia chegar em casa. 

No verão sair correndo e brincar com os amigos da vizinhança. No inverno ficar junto da família, curtindo o calor do fogão à lenha e se deliciando com os quitutes que só a mãe da gente sabe fazer. 

O final de semana começava na sexta à tardinha e sempre era especial: família unida. Sábado era brincadeira com os amigos o dia todo e à noite era de jantar diferente. Minha alegria era comer cachorro quente. Uma delícia! No domingo o pai me acordava “cedo”, pois a minha tarefa era ajudá-lo a preparar o churrasco. Bons tempos! Curtia cada dia, cada momento, sem pressa”.

Rodrigo Grosz  Machado

40 anos, é Gerente Executivo da Casa Valduga há quatro anos. Casado com Kelin e pai da Elisa, está em Farroupilha há 10 anos e veio em busca de emprego e projeção da carreira, além de ficar mais perto da família que hoje está em Carlos Barbosa.