Ela venceu o câncer de mama duas vezes

Outubro rosa é tempo de retratar histórias vencedoras como a de Suzane Silveira de Souza

Algumas vivências são direcionadas a determinadas pessoas, como se fossem níveis que precisam ser superados dentro de um jogo para que mude a fase. Na verdade, é assim com todo mundo, mas alguns passam por níveis mais complicados que outros. Passam, se fortalecem e continuam. É isso o que a doença traz para a vida de alguém. Superação. 
Outubro rosa é tempo de retratar histórias vencedoras, capazes de contagiar com exemplos de garra, lembrando que a esperança deve ser mantida, pois é combustível da trajetória inteira.
Suzane Silveira de Souza foi “premiada” duas vezes. O primeiro câncer de mama apareceu em 2006. O segundo em 2011. Cada mama um alvo para a doença, vencida. O tratamento químico, aquele que salva e que também mais maltrata o doente, não destruiu sua vontade de viver. Em nenhuma das duas vezes.
“A química do tratamento é insuportável! No ano em que reconstruí uma mama, descobri outro câncer no outro seio. Me senti traída pelo destino”, conta Suzi, como é chamada.
Aos 57 anos, recém completados, Suzi experimenta as mudanças trazidas pela ausência da mãe Marlene, falecida há três meses e com quem viveu a vida toda. O filho Luciano vive em Montevidéu. O luto desta nova etapa, que acena com um quê de liberdade, faz nascer muitos planos para ela.
“Pintei meu cabelo, estou mudando minha casa e quero viajar muito. Para bancar isso, posso colocar um par de agulhas de crochê e outro de tricô na mala e me garanto”, explica a artesã, que foi professora.
Os frutos de sua arte são vendidos pelas redes sociais (Complementos trabalhos manuais) e ela passa os dias atarefada com sua produção e desempenhando seu papel na Liga de Combate ao Câncer, órgão que representa no Conselho de Municipal de Saúde. 
Do câncer de mama que a visitou guarda o aprendizado e algumas cicatrizes pela mastectomia que precisou realizar. Nas duas mamas, reconstruídas.
A primeira descoberta foi pelo autoexame. Mamografia realizada e um erro no laudo custou-lhe o crescimento da bolinha encontrada. “Em dois meses houve um crescimento de mais de cinco centímetros. O que os médicos daqui erraram, Deus consertou na hora e me fez encontrar dois anjos, os médicos Flávio Ribas e André de Borba Reiriz”, explica Suzi, que ainda confessa que durante o enfrentamento da doença esperava a mãe e o filho dormirem para chorar no sofá da sala. Ela e a companhia do cachorro que tinha na época. 
“Era luta para viver e ao mesmo tempo preparar as malas para partir porque eu sentia que os médicos não acreditavam em minha cura, mas enfrentei tudo com a família do lado”, relembra a mulher que por algumas vezes viu sua cabeça sem cabelos.
Depois de ter vencido a doença, em 2016 foi a vez de enfrentá-la em sua mãe. “Minha mãe também teve que tirar a mama e confesso que vê-la passar por tudo o que eu tinha passado, doeu muito mais. Ter câncer foi horrível, mas não foi a pior coisa que me aconteceu na vida”, diz sorrindo, para contrastar com o conteúdo do que contava.
Ciclos que cada um atravessa. Desafios que fazem crescer. Suzi, que adora os prazeres da vida, como um bom churrasco, acredita que quando tiver cumprido seu papel, será contemplada com a morte, que passou a enxergar de modo diferente depois de tudo que enfrentou. 
Até lá, segue seu caminho, falando com naturalidade sobre tudo – inclusive sobre o fato de ter ficado surda por conta das quimioterapias – e repleta de esperança por tudo o que ainda vai viver.
Nível superado. Nova fase… para ela e para todas as mulheres que vencem o câncer de mama, doença que requer atenção em todos os meses, de todas as cores.