Trufas de chocolate pelos filhos

Domingo é Dia das Mães. Todas elas são especiais. Todas sabem o que passam pelos filhos e o que seriam
capazes de fazer por eles. Desta vez, o Jornal O Farroupilha conta a história de uma mãe que vende trufas de
chocolate nas ruas da cidade. Anda de muleta e causa admiração pela força que demonstra

Ela tem apenas 28 anos. Fala bem, sabe se expressar e fazer conta de forma rápida. Aproveitou o dom com os chocolates e aprendeu a fazer trufas para vender nas ruas. Leva uma vida repleta de limitações por causa do pouco dinheiro que entra mensalmente. Mas a limitação fica no âmbito financeiro, mesmo lhe faltando a perna direita. Quem circula pelo centro de Farroupilha certamente já viu Vanessa Dornelles trabalhando.
Mãe de Fábio, oito anos, e Iago, três, Vanessa cria os filhos sozinha, com a aposentadoria que possui e com a venda das trufas que produz, 150 unidades por dia. Mora em Caxias do Sul e vem para a cidade, de ônibus, diariamente exceto aos domingos, quando aproveita para fazer a limpeza no apartamento onde mora. Chega no período da tarde, depois de mandar o mais velho para a escola e deixar o mais novo na casa da irmã. Só vai embora quando vende tudo.
Venho a Farroupilha porque as vendas acontecem mais aqui do que em Caxias, onde tem muita gente. Além disso, as pessoas aqui são mais humildes, já tenho até amigos. Eu me sinto em casa, diz a respeito do lugar que escolheu para trabalhar há um ano.
Segundo a moça, precisa trabalhar nas ruas para ter a flexibilidade de horários que possui para poder cuidar dos filhos. No período da manhã fica em casa com eles. Até já pensei em trabalhar em empresas, mas como a vida está agora, não daria. Faço isso para que meus filhos não precisem fazer amanhã, conta a mãe.
Aos sete anos, Vanessa foi atropelada por um transporte escolar. Acordei no hospital e dias depois precisaram cortar minha perna por causa da artéria danificada. A única vida que conheço é esta, com uma perna só, então para mim, é tudo normal. Sempre fiz tudo. Cuidei e cuido dos meus filhos normalmente e sei que eles não se sentem diferentes por ter uma mãe como eu. Quando eu não dava as coisas que o Fábio queria quando era pequeno, ele escondia minha muleta, conta, divertindo-se com a lembrança.
Perguntei como ela consegue. Respondeu, olhando nos meus olhos: Tenho uma vizinha que é cega e faz crochê. Também me pergunto como ela consegue.
Conversei com Vanessa na rua mesmo, sentada em um cantinho de uma esquina da Pena de Moraes. Não me passaram despercebidos os olhares das pessoas. Vanessa diz que poucas vezes nota sentimentos de pena em relação a ela. Eu não tenho do que reclamar porque estou trabalhando e ganhando meu dinheiro honestamente. Confio em Deus e acredito que deve haver uma recompensa lá na frente. A vida é dura para todo mundo e todo mundo tem dificuldade. O que faz a gente ser diferente é a gratidão e eu agradeço tudo o que tenho, afirma, despertando minha admiração.

Como mãe e como filha
Ela mesma se julga uma mãe rígida. Rígida, mas ao mesmo tempo passo a mão na cabeça. O mais velho já arruma todo o quarto sozinho, é bem responsável, afirma, entregando um pouco do estilo de educação que adota junto aos meninos.
Apesar dos poucos recursos, Vanessa ainda ajuda a mãe a pagar algumas dívidas e dá dez reais por dia para a irmã cuidar do caçula. Eu tenho que ajudar. Quando eu terminar as contas que ainda tenho, vai ficar melhor, analisa, mencionando a quantia de três mil e quinhentos reais.
Segura e confiante de que vai conseguir suas metas com as trufas de chocolate, ela mantém o foco, comum a todas as mães: dar o melhor aos filhos.
Que o domingo das mães seja doce, como é o fruto do trabalho da moça.