Tramontina desenvolve equipamento de suporte respiratório para doação

Homologado pela Anvisa, Ventra sai pronto da fábrica como alternativa diante da alta demanda na rede hospitalar durante a pandemia

Nos últimos meses, um novo produto foi desenvolvido na fábrica da Tramontina em Carlos Barbosa. Dessa vez, destinado ao segmento de saúde para auxiliar em situações de emergência e deixar um legado pós-pandemia. A empresa centenária e genuinamente brasileira reuniu suas equipes técnicas, principalmente de eletrônica e construção de máquinas, para a criação do Ventra – o equipamento de suporte respiratório transitório que sai da unidade pronto para uso emergencial em hospitais. O primeiro lote contará com 40 equipamentos que serão doados em dezembro para hospitais de mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul. 

O projeto nasceu em março, em meio a crise no norte da Itália, onde o sistema de saúde entrou em colapso. No Brasil, havia grande preocupação em relação a possível escassez de equipamentos para suporte respiratório. “O cenário era de limitação na capacidade de produção nacional e muita concorrência, alto custo e longos prazos para importação. Reunimos um grupo multidisciplinar que estudou em detalhes os diversos esforços em andamento, incorporamos novas ideias e, por fim, chegamos a proposta do Ventra”, afirma Osvaldo Steffani, Diretor da Tramontina à frente do trabalho.
A equipe de engenheiros e técnicos opera em espaço exclusivo de 360 m² criado no prédio técnico-administrativo da Tramontina S.A. Cutelaria. Conta com layout específico e áreas separadas para higienização, estoque, identificação e classificação de componentes, montagem, embalagem e assistência técnica. Com exceção dos componentes da área médica disponíveis no mercado, o Ventra foi desenvolvido dentro da empresa. 

 O conceito é baseado em estudo do MIT – Massachusetts Institute of Technology – que envolve um sistema mecânico automatizado relativamente simples e barato, utilizado para ventilar pacientes em situações de emergência. Esse sistema substitui o reanimador manual chamado de Ambu, atualmente utilizado nas emergências dos hospitais, com vantagens ligadas à simplicidade, baixo custo, fácil assepsia e disponibilidade no mercado. 

A iniciativa também contou com o apoio de profissionais e estrutura do Hospital Tacchini, de Bento Gonçalves/RS, onde aconteceram os primeiros testes do protótipo. Dentro deste contexto, o Dr. Felipe Rech Borges, anestesista, e o Engenheiro Clínico Carlos Mattoso, contribuíram de forma notável durante todas as fases do desenvolvimento. “Nossa intenção foi desenvolver um produto robusto e com tecnologia avançada, fazendo uso de eletrônica e mecânica de alta confiabilidade e precisão, não apenas algo improvisado para o momento de dificuldade, mas que apresentasse diferenciais importantes para sua categoria e finalidade”, complementa Osvaldo Steffani. 

Testes técnicos de bancada também aconteceram no Laboratório de Eletromédicos do Labelo – PUC, que funciona junto ao Hospital São Lucas, em Porto Alegre. O equipamento também foi submetido a rigoroso ensaio de compatibilidade eletromagnética, em laboratório especializado (SP). Laudos médicos atestando a eficiência do equipamento, dentro do escopo de uso foram possíveis por meio de testes clínicos no Hospital Tacchini e junto a um grupo multifuncional de Porto Alegre – que conta com profissionais dos Hospital São Lucas, Hospital de Clínicas e HMV. 

Equipamentos como o Ventra foram regulamentados através de uma resolução específica da Anvisa, em maio, para serem utilizados em situações de emergência. O sistema mecânico e eletrônico foi projetado para ser muito robusto, preciso e confiável, a partir de tecnologia avançada e componentes de alto padrão de qualidade e confiabilidade. A movimentação do sistema é feita através de um servo motor, que permite que a alteração dos parâmetros de utilização sejam feitos de forma rápida, amigável e precisa.

 A solução não é destinada para casos de doenças respiratórias graves que demandam ventiladores microprocessados e de alto custo. “O objetivo do Ventra é ser realmente um equipamento de suporte respiratório emergencial e transitório, podendo ser útil nas situações em que não há disponibilidade imediata de ventiladores de cuidados críticos, até que a situação seja solucionada”, finaliza Steffani.