Leve a vida com poesia

Cresci ouvindo meu pai declamar Jayme Caetano Braun. E na adolescência, conheci a obra de Mário Quintana. Foi paixão à

Cresci ouvindo meu pai declamar Jayme Caetano Braun. E na adolescência, conheci a obra de Mário Quintana. Foi paixão à primeira leitura. Certa vez, ao ver um par de sapatos pretos no beiral da janela, Quintana escreveu: “Dois velhos barcos, encalhados sobre a margem tranquila de um açude”. Em outra oportunidade, ao ouvir uma amiga dizer que achou pequeno o quarto do Hotel Royal, em Porto Alegre, onde o poeta morava (cedido pelo proprietário Paulo Roberto Falcão, ex-jogador de futebol), Quintana disse: “Eu moro em mim mesmo. Não faz mal que o quarto seja pequeno. É bom, assim tenho menos lugares para perder as minhas coisas”. E, após tentar, sem sucesso, por três vezes uma vaga na Academia Brasileira de Letras, Quintana escreveu o “Poeminho do contra”: “Todos esses que aí estão, atravancando meu caminho, eles passarão… eu passarinho”.

A obra de Mario Quintana me deixou tão fascinado a ponto de me atrever a escrever textos bobos. Depois amassei e joguei no lixo (na era do computador ‘excluí e deletei da lixeira do Windows’)”. Todavia, toda vez que vejo aberto inscrições para concursos de Poemas, me pergunto: “Por que não?”. Mas em seguida a voz da razão subjuga a voz do coração.

Quiçá um dia Deus em sua infinita bondade e misericórdia me abençoe com a dádiva de ver poesia em qualquer situação, como Mauro Ulrich: “Não tem mais tomate… Como vou fazer o molho? Com o nó do indicador, coço o canto do olho”. Ou com o dom de notar em algumas coisas a beleza que os outros não notam, como Alcione Sortica: “De repente, a brisa, e teus cabelos agitavam-se, imitando espigas de trigo, balouçando-se ao vento”. Ou com a capacidade de expressar emoções, sentimentos ou sensações em forma de versos, como Carlos Drummond de Andrade: “Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus, se sabias que eu era fraco.”.

Ah… a poesia! Em meio a tudo que acontece no mundo, precisamos aprender a levar a vida de forma mais leve, com mais poesia. Como Edison Botelho: “A gente vai diluindo, a rotina no café, e do jeito que der, a vida na poesia”.