Fragilidades expostas

Nestes tempos de isolamento social – ou seja lá que nome tenha o fato de estarmos mais dentro de casa,

Nestes tempos de isolamento social – ou seja lá que nome tenha o fato de estarmos mais dentro de casa, evitando a alegria dos dias ensolarados que antecedem a chegada do frio intenso por estas bandas – mal tenho tido tempo de ler os livros que peguei na biblioteca pública.

Enquanto vejo mensagens de gente inventando coisas para fazer, experimento um ritmo intenso de trabalho, que chega a afetar o acompanhamento das tarefas de casa propostas pela escola de minhas filhas. Antagônico. Mais suave seria se estivesse cumprindo a agenda de compromissos na rua. Elas reclamam, tento dosar, muitas vezes sem sucesso.

As condições que vivemos expõem uma outra questão: o hábito que temos de reclamar. Alguns de nós reclamam de tudo, quase o tempo todo. Péssimo hábito, é preciso vigiar. 

Dizem que esta pandemia veio para nos ensinar muito sobre solidariedade. Começo a questionar, analisando o crescimento de uma “guerra política resumida em: se você quer ficar em casa é esquerdista; se você quer trabalhar na rua é de direita”. Que pobreza! 

Melhor dissertar mesmo sobre o peso que a falta da rotina exerce sobre nós. Um exemplo: esta história de fazer exercícios em casa não é para mim. Não consigo quebrar o ritmo e colocar-me a suar na sala para manter um bom condicionamento físico… que eu havia começado a conquistar à base de disciplina, antes de virar tudo de cabeça para baixo ou melhor, fechar. 

De cabeça para baixo também estão meus horários, aliás, quase tudo que eu tinha sob controle. Este sim tem sido um aprendizado trazido pelo coronavírus lá fora. 

Diante disso, acabo concluindo que cada um de nós deve estar travando suas batalhas pessoais neste momento e os mais atentos podem estar sendo testados em suas fragilidades. “O que não me mata, me fortalece”, oportuna frase do filósofo alemão Friedrich Nietzsche. 

Por aqui, acho que os livros emprestados vão ter que esperar mais um pouquinho, o que é bom tendo em vista a triste estatística do desemprego que atinge 12,3 milhões de pessoas. E mais cinco milhões estão a caminho por conta da pandemia. 

Melhor continuar não tendo tempo.