Vinícola Silvestri, uma história familiar que está na quarta geração produzindo vinhos no Vale Trentino
O início foi com a chegada do patriarca, Giuseppe Silvestri, que veio da Itália em 1888, com sua família. Ele se estabeleceu no Vale Trentino e, por volta de 1895, iniciou o cultivo de seus vinhedos
O Jornal O Farroupilha em parceria com a Rádio Miriam Caravaggio 95.7 FM, está publicando o programa Aqui é Meu Lar, que vai ao ar na emissora todos os sábados, às 8h da manhã, durante os meses de outubro, novembro e dezembro. Esta é a sexta edição do projeto que visa conversar com agricultores, mostrando a realidade do setor primário, as histórias das famílias, as dificuldades, os desafios e as exigências de inovação.
O objetivo é valorizar os agricultores na sua atividade, família, espiritualidade, dificuldades, lutas, conquistas e a importância sócio-econômica para o município. Em 2019 o tema abordado foi Sucessão Rural. Em 2020, a relação das famílias com a comunidade onde vivem. Em 2021, Cooperativados: uma relação mútua – a trajetória das famílias associadas às cooperativas e, em 2022, “Essas Mulheres”, o protagonismo feminino na agricultura. Em 2023 o tema abordado foi “Pés no interior, olhos na cidade. Volta às origens”, uma conversa com pessoas que vivem no interior e estudam na cidade, ou que, por muito tempo, tiveram uma vida urbana e decidiram ir para o interior produzir, mesmo que não tenham nascidos no meio rural.
Em 2024 o tema é “Nossas Vinícolas: empreendendorismo e prosperidade”. São 10 edições, até dia 21 de dezembro.
Em 1888 inicia a história da família Silvestri no Brasil, com a chegada de Giuseppe Silvestri, vindo da Itália. Ele recebeu parte do Lote Rural número 42, Linha Julieta, Colônia Sertorina, 1º Distrito de Farroupilha. Hoje a localização é na Avenida Luiz Franciosi Sério, 8.700, Vale Trentino, mesmo local de origem. Calcula-se que em 1895, após se casar com Maria Guerra, Giuseppe iniciou o cultivo dos seus vinhedos, produzindo vinhos para consumo próprio. Ele teria morrido aos 40 anos de idade e deixado a esposa com seis filhos, sendo que o primogênito tinha 10 anos e, o caçula, seis meses.
Por volta de 1925, com o objetivo inicial de aumentar a renda familiar, Ernesto Silvestri, um dos seis filhos de Giuseppe, começou a elaboração de vinhos na Vinícola Silvestri. No porão da casa, começou produzindo aproximadamente oito mil litros, que eram vendidos para a Vinícola Rio Grandense, cuja pipa foi preservada ao longo dos tempos e se encontra na propriedade. Com o passar dos anos, Ernesto e um grupo de amigos fundaram a Cooperativa Vitivinícola Forquetense, que passou a comprar vinhos. Também se encontram, no parreiral, videiras centenárias, oriundas dessa época.
E a sucessão foi acontecendo a cada geração. Na terceira, em 1967, com a implantação de novos vinhedos, José Antônio Silvestri, filho de Ernesto e neto de Giuseppe, resolveu aumentar a vinícola, com a construção de um novo espaço ao lado da casa, ampliando a produção anual para 150 mil litros. O vinho era comercializado a granel e engarrafado pelos compradores. Ernesto teve 10 filhos, e quem seguiu a atividade na propriedade foi José Antônio, que se casou em 1970 com Lorita Bonetto Silvestri, hoje com 76 anos de idade. Ele faleceu em janeiro de 2024, aos 83 anos.
Novo tempo
Um dos filhos de José Antônio e Lorita, Edgar Silvestri, mantém a Vinícola em atividade. Ele é bisneto de Giuseppe e conta que quando seu pai ficou sozinho na propriedade, vendendo vinho a granel, em caminhão pipa, ele ainda era muito jovem. Na ocasião em que seu pai o incentivou estudar enologia, o jovem se matriculou na Escola Técnica, em Bento Gonçalves, no Curso Superior de Tecnologia em Viticultura e Enologia. Portanto, Edgar, alia a tradição à arte familiar na elaboração de vinhos coloniais e às técnicas modernas de enologia. Formado em 1999, Edgar e a família Silvestri começaram a engarrafar e comercializar seu próprio vinho, no ano de 2000. Edgar conta que, posteriormente, percebeu que a empresa tinha potencial para criar a própria marca.
Ele diz que foi o que faltava para a família se posicionar no mercado, embora a produção e venda a granel seja mais lucrativa. já que o processo não requer peças de engarrafamento. É só produzir e entregar para terceiros. No entanto, o envaze exige mais mão-de-obra, envolvimento, equipamentos e os itens para o engarrafamento do líquido. Também não exige que alguém esteja à disposição para venda e atendimento de pedidos ou recepção do cliente final, ou abrir a vinícola nos feriados e finais de semana.
Mas a família estava determinada a mudar o método, passou a elaborar vinhos finos, comprando um pequeno volume de uvas de terceiros, como merlot e tanat, as quais, completadas com a produção própria de cabernet e moscato, eram engarrafados. Para a elaboração de vinhos de mesa, a uva vem do próprio parreiral, com bordô e niágara. Para a produção de vinho tinto seco tradicional, são empregadas as uvas isabel e bordô, além da variedade lorena. A produção conta ainda com a elaboração de vinhos da uva rosada, assim como vinhos suaves. A vinícola também está entrando nos mercados de suco, chope de uva e espumante moscatel, por meio de parcerias.
Edgar lembra que é uma empresa familiar pequena e, por isso, trabalha com a produção em menor escala, para não fugir das características da vinícola que produz em média 100 mil litros de vinho por ano. Ele explica que é necessário deixar uma reserva de vinho nos tanques para suprir a demanda na entressafra.
A uva é produzida em uma área de aproximadamente 10 hectares que rende, anualmente, uma média de 150 mil quilos. Mais da metade da venda dos produtos acontece no local, embora atenda às praças de Porto Alegre e algumas de fora do estado. Edgar projeta que o próximo passo é investir no turismo, porque tem percebido que a venda direta é um sinal de que esse processo tem futuro.
A vinícola está há 24 anos elaborando e engarrafando seus vinhos, uma história que se iniciou com a chegada de Giuseppe, que já produzia vinhos e guardava em uma pipa na propriedade. O varejo da cantina está no porão em que tudo começou, onde ainda se encontram peças, quadros, móveis e utensílios da primeira geração e que, com o passar dos anos, novos equipamentos foram agregados.
Ou seja, além das garrafas expostas no local para a venda, o espaço pode ser considerado um museu da família. No momento a vinícola é cuidada pela família, Edgar, o irmão Evandro e a mãe, Lorita. Nos últimos seis meses passou a fazer parte do grupo a esposa de Edgar, Marciane Signori Silvestri, que é formada em contabilidade e por 13 anos teve um estabelecimento comercial em Farroupilha. Desativou o negócio para ajudar na cantina, após convite do marido, já que se trata de uma empresa familiar. Ela conta que faz de tudo na empresa, mas atua preferencialmente na parte financeira. O responsável administrativo é Edgar, enquanto seu irmão cuida do parreiral. Edgar e Marciane, são pais da Eloisa Silvestri que, por ser adolescente ainda, tem como atividade os estudos.
Marciane vislumbra o turismo como nova fonte de renda, pois com a reativação do projeto Rota Turística Vale Trentino, a empresa, como uma das associadas, está habilitada a receber os visitantes. Ela imagina oferecer o vale para os clientes que já vão à cantina comprar os vinhos. “A gente só quer agregar algumas coisas a mais para que as pessoas que vêm se sintam acolhidas, e percebam que aqui é um lugar onde começou a história de toda a família Silvestri. Procuramos manter essa tradição e justamente essa história para as pessoas verem o quanto é importante cultivar essa história”, completa.