Lição de amor e luta pela vida

Com apenas 1 ano e 6 meses, Rhauane Faggion enfrenta a batalha contra um tipo raro de câncer maligno

Renato Dalzochio Jr.

A beleza é a única coisa preciosa na vida. É difícil encontrá-la, mas quem consegue descobre tudo. O pequeno, porém belíssimo poema do gênio Charles Chaplin, pode resumir em poucas palavras a história da pequena farroupilhense Rhauane Faggion, de apenas 1 ano e seis meses de idade.

Desde os cinco meses de vida, a menina luta contra um neuroblastoma (tipo raro de câncer maligno) localizado entre os pulmões e a medula. Embora ainda seja um bebê, Rhauane é um exemplo de perseverança e amor pela vida. Os pais, Edgar José Faggion, 44 anos, e Roseli Maria Faggion, 37 anos, que também possuem outro filho, Rafael, de 5 anos, seguem tocando a empresa familiar na garagem de casa, no bairro São José, ao mesmo tempo em que acompanham e dão forças para a filha em sua batalha pessoal.

O casal é proprietário de uma prestadora de serviços, o Atelier de Costura Prefag, no qual realizam a costura de calçados para empresas da cidade. Eles explicam como a doença de Rhauane foi descoberta.

Até os cinco meses de idade levávamos a Rhauane no médico apenas para realizar consultas de rotina. Foi quando ela começou a ter febre alta e suar muito. Levamos no plantão do Hospital São Carlos e eles falaram que poderia ser uma virose, mas os remédios não resolviam. Então, levamos ela no pediatra, que receitou outros remédios, que também não fizeram efeito. Tivemos que interná-la por dois dias no São Carlos, porque ela começou a ter dificuldades pra respirar e a febre alta começou a causar convulsão. Foi quando decidiram transferi-la do São Carlos para o Hospital Geral em Caxias. Lá ela realizou exames de Raio X, que apontaram a existência de uma pequena massa entre os pulmões e a medula. Foi feita uma biópsia, que acabou diagnosticando o neuroblastoma. Antes o tumor cresceu e chegou a atingir 7 cm, aproximando-se da veia aorta e causando um pequeno desvio de traquéia na nossa filha.

De acordo com Edgar e Roseli, após a cirurgia a menina ficou quatro dias se recuperando na UTI. Finalizada a recuperação, Rhauane iniciou a batalha contra a doença, realizando sessões de quimioterapia. Após a primeira sessão, as demais foram realizadas de 21 em 21 dias, totalizando nove sessões até o momento, sendo que a luta contra o câncer completou um ano no mês de março.

Ela sofreu as complicações que qualquer pessoa sofre ao passar pela quimioterapia. Feridas na boca, assaduras, baixa imunidade. Os médicos cogitaram a possibilidade dela ter que usar um colete, por causa do desvio na traquéia. Ela nem conseguia caminhar. O primeiro cateter que colocaram nas veias teve que ser trocado, porque infeccionou. Tiveram que isolar a Rhauane no hospital, por causa da febre alta e da baixa imunidade, contam Edgar e Roseli.

Segundo o casal, o auxilio da Associação de Apoio as Pessoas com Câncer (AAPECAN) tem sido fundamental para que Rhauane siga em frente na luta pela vida. A AAPECAN tem nos auxiliado em tudo: remédios, alimentação, psicóloga e o suplemento que a Rhauane precisa tomar. Nós sempre ajudamos a entidade, mas nunca imaginamos que um dia iríamos precisar dela, destacam.

Diante da dura batalha que a filha tem que enfrentar com tão pouca idade, muitos imaginariam que os pais de Rhauane estariam angustiados e desesperados, sem forças para seguir em frente. Mas o exemplo de amor e perseverança da menina de apenas 1 ano e 6 meses, mostram que a fruta não cai longe do pé.

Edgar e Roseli são dotados de muita esperança e fé em Deus, e desde o início, além de permanecer o tempo todo ao lado da filha e dar muita força para ela, jamais desanimaram. O otimismo e a energia positiva dos pais refletem em Rhauane. Muito extrovertida e alegre, ela brincou e sorriu durante toda a entrevista. Entre uma pergunta e outra, Edgar e Roseli em momento algum choraram ou mostraram qualquer tipo de desânimo ou fraqueza. Cada resposta era acompanhada de um sorriso e um afago carinhoso na filha.

Nós não imaginávamos que iríamos receber tanta força e tanto apoio. Nossos familiares, amigos e até pessoas que conhecemos no hospital nos presentearam com santinhos, anjinhos, imagens de Jesus, da Virgem Maria, terços. Oramos muito todos os dias e temos muita fé em Deus que a Rhauane vai vencer esta luta pela vida. Apesar de ser um tumor maligno, os médicos nos informaram que na idade dela as chances de cura são de 100%.

O que é neuroblastoma?

O neuroblastoma é o mais frequente tumor congenito e o mais frequente tumor durante o primeiro ano de vida. É um típico tumor pediátrico, raro após os 14 anos de idade. Em termos gerais, é um tumor raro, com uma incidência de 10 casos por milhão de crianças entre os zero e quatro anos de idade.

Os exames mais informativos são o Raio X do tórax e abdômen (identificação de massas calcificadas), tomografia computadorizada, aspiração e biópsia da medula óssea para pesquisa de células malignas, além de técnicas de análise molecular das mesmas, que permitem pesquisar a presença de um oncogene (N-myc), cuja amplificação tem sido identificada em vários tumores malignos, e que parece exercer um papel preponderante na patogênese desses tumores, incluindo os neuroblastomas. O diagnóstico definitivo, obviamente, requer o exame histopatológico de um fragmento de biópsia ou da peça cirúrgica.

O tratamento do neuroblastoma é, em regra, complexo. Em muitos casos, é necessário o recurso a múltiplas modalidades terapêuticas, incluindo cirurgia, radioterapia e quimioterapia em variadas combinações. Devido à idade dos acometidos pelo tumor, todos os esforços devem ser realizados no sentido de uma cura definitiva da doença.