Conheça a história da Vinícola Cave Antiga, de Farroupilha
Empresa, que tem seus produtos reconhecidos em concursos nacionais e internacionais, elabora raridades em vinhos e espumantes desde 1997
Reportagem especial: José Ademir Theodoro – Rádio Miriam
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A Vinícola Cave Antiga nasceu a partir de 1997, no 3° Distrito de Farroupilha, na comunidade da Capela São Gabriel das Dores, na região do Burati. O empreendimento ocupa um prédio que começou ser construído em 1928 e concluído em 1948, pela família Gasperin, que lembra a história dos imigrantes italianos que já produziam vinhos. Hoje, a Cave Antiga tem seus produtos reconhecidos pela excelência de qualidade nos mais importantes concursos de vinhos e espumantes, no âmbito nacional e internacional, com cerca de 20 rótulos próprios.
É uma vinícola familiar, administrada pelo proprietário, João Carlos Tafarel, e a filha, Natália Sanches Tafarel, e o sócio Cristhian Ferrari Ambrosi, mais os colaboradores que atuam na elaboração de vinhos e espumantes especiais. A família proprietária é natural do município de Cotiporã, onde possui vinhedos com cerca de cinco mil hectares. Apesar da família Tafarel chegar depois, ela teve o cuidado e a preocupação de preservar a história da vinícola na produção de vinho e na arquitetura antiga, com a restauração das paredes e preservação das peças e equipamentos dos imóveis.
Na época, a cantina estava sesativada já que a família que era proprietária já não residia mais no local. Por isso, toda estrutura para elaboração dos vinhos e espumantes existente na cantina atual, como pipas, barricas, vasilhames, máquinas, escritórios e equipamentos, foram instalados a partir de 1997. Natália conta que a história foi sendo recuperada aos poucos, por meio de pesquisas e depoimentos de moradores vizinhos.
“Acredito que cada dia é um tijolinho que a gente vai colocando. Quando foi moldada a Cave Antiga, pensamos na elaboração de vinhos finos e espumantes de uvas viníferas, vinhos finos de qualidade, sempre em destaque. Sempre foi um pré-requisito ter essa qualidade, com os nossos vinhos. Ainda é uma construção diária, sempre pensando na qualidade, desde o produtor até a garrafa. Todas as etapas do processo de elaboração são importantes, e precisam ser valorizadas para que a gente tenha um produto de excelência”, explica.
Ela ressalta que ter essa relação com os vinhos e espumantes da Cave Antiga é uma relação de muito respeito, de muito amor pelo que se está fazendo. Segundo Natália, não existem grandes mistérios. “O segredo é a gente ser apaixonado pelo que faz. Tentar construir o máximo todos os dias, buscar destaque dentro do que a gente faz e elaborar produtos melhores, buscando sempre apresentar isso para nossos clientes e amigos”, acrescenta.
A área plantada, em Cotiporã, é tem variedades chardonnay, que dá origem aos vinhos brancos e espumantes, e a uva schönburger, variedade de origem alemã, que tem menos de 25 hectares plantados em todo o mundo. Este é o único vinhedo da América Latina com essa variedade, pois se trata de uma uva diferenciada, cultivada no vinhedo da família com exclusividade. Outra especificidade é a utilização da uva marselan, uma espécie francesa, que se adaptou bem ao clima da Serra Gaúcha e do Rio Grande do Sul, demonstrando grande potencial enológico para produtos de qualidade superior.
Além disso, há outras variedades no portfólio de produtos da Cave Antiga, que ainda trabalha com vinhedos de parceiros, como o moscato, em Farroupilha, dentro da região da Indicação de Procedência, e vinhedos da Campanha Gaúcha, Serra do Sudeste e Serra de Santa Catarina. A vinícola não prioriza um rótulo específico como carro-chefe de vendas, mas tem o espumante moscatel como um dos mais destacados, que tem o selo de Indicação de Procedência geográfica de Farroupilha. Outro é o espumante blend blanc, bebida elaborada com a chardonnay produzida em Cotiporã.
A Cave também produz um vinho especial, o “Cave Antigo Iridium”. A palavra Iridium significa metal precioso de muita raridade na natureza, pois é proveniente de matéria espacial, uma joia rara. A comparação deu origem ao rótulo, que é um vinho ícone, elaborado apenas em safras especiais. Desde que foi criada a Cave Antiga, somente em 2009 e 2020 foi produzido esse vinho, porque foram duas safras históricas. É um blend de três variedades, marselan, tanat e merlot, ou seja, além de ser uma misturade três terroirs do Rio Grande do Sul (marselan de Cotiporã, tanat de Santana do Livramento, na Campanha Gaúcha, e o merlot de Mariana Pimentel, Região Norte da Serra do Erval).
Esse vinho fica 18 meses envelhecendo em barricas de carvalho francês, com um potencial de envelhecimento de 15 anos, e tem qualidade superior a vinhos que podem ser encontrados em algumas partes do mundo. Dos vinhos tintos, um destaque importante para o marselan, que tem conquistado o consumidor da região e de outros mercados. Já o vinho branco Cave Antiga Tafarel é elaborado com a chardonnay clássica, rainha das uvas brancas, e a schönburger. Natália conta que esse rótulo tem aberto muitas portas, já que por muito tempo as pessoas não davam importância para o vinho branco. No entanto, lembra, “tem conquistado o coração dos clientes e amigos”.
Os produtos da vinícola são comercializados nas regiões Sul e Sudeste, mas chega em outros locais do Brasil, especialmente nas capitais. O turista que visita e compra em maior volume no varejo da Cave Antiga, recebe em casa o produto, encaminhado por transporte apropriado, enquanto continua o passeio pela região sem precisar levar o que foi comprado.
Capítulo à parte
Natália Sanches Tafarel, 31 anos, merece um capítulo a parte. Apesar da vinícola existir desde 1997, a história dela com a cantina é recente, mas não menos envolvente. Em 1997, na aquisição da propriedade pela família, quando tudo começou, ela tinha apenas quatro anos de idade. Cresceu ao redor das paredes da cantina, período em que, especialmente nos finais de semana, brincava no interior da casa. Mais tarde se afastou por um tempo até se formar em Políticas Públicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde também cursou Mestrado na área.
Em 2018 ela decidiu retornar para casa, por um período de seis meses, mas acabou ficando e assumindo o projeto que sempre foi o sonho de seu pai. “Acabei me apaixonando perdidamente pelo mundo dos vinhos que, para quem sabe, quem degusta, só tem porta de entrada, e quanto mais a gente busca conhecimento, quanto mais a gente acredita e conhece, menos a gente sabe, porque descobrimos que, no final das contas, não sabemos nada. Foi isso que me apaixonou no mundo dos vinhos. Não é só abrir uma garrafa, botar na taça e servir para nossa família, para nossos amigos. O mundo dos vinhos envolve muito mais que isso, é uma paixão enorme, todo um ecossistema, todo trabalho por traz e todo empreendedorismo também. E foi por todos esses detalhes que envolve o mundo dos vinhos, que eu me encantei, e fui me apaixonando aos poucos por essa nova profissão até que acabei assumindo, depois da minha nova graduação”, conta.
Motivada pelo projeto e com a paixão despertada pelos vinhos, ela voltou para casa e junto com Cristhian Ferrari Ambrosi, enólogo e sócio da cantina, seu pai – João Carlos Tafarel, colaborados, amigos e vizinhos, decidiu seguir com o projeto da Cave Antiga. Tafarel é funcionário da Embrapa há mais de 30 anos, e sua esposa é professora de Enologia na Faculdade dos Pampas (Unipampa). Natália cursou W7, que é um curso de Certificação em Especialidade em Vinhos Internacional, além do conhecimento que vai adquirindo diariamente na atividade.
Brinquedo para os irmãos
O prédio da cantina é antigo, construção de 1948 que aos poucos foi sendo restaurada. No local onde funcionava a rotulagem das garrafas, trabalho que era feito manualmente nos finais de semana, atualmente é o espaço do Enoturismo. A rotulagem era primária e Natália conta que servia de brinquedo para ela e seu irmão, Eduardo, nos finais de semana. Para dar a maior originalidade possível ao prédio, foram retirados os rebocos das paredes, e nesta etapa, foram encontradas janelas e paredes que estavam encobertas as quais, até então, a família não se sabia que existiam.
O telhado foi reformado, mantendo-se a originalidade. A madeira antiga que sustentava a cobertura foi reutilizada para a construção das mesas da sala de degustação. Assim, a casa tenta manter a sustentabilidade, não só ambiental, mas também cultural, dentro da empresa. Prova disso é que a maioria dos lustres internos são feitos de galhos e troncos de parreiras.
O processo de elaboração dos vinhos e espumantes passa pelos tanques de inox e barricas de carvalho francês. Ela lembra que, nas últimas décadas, os tanques de metal passaram a ser importantes, enologicamente, “para preservar e obter a essência do vinho e sua delicadeza. Mas alguns passam pelas barricas de carvalho, porém depende do vinho, da uva, safra, do momento do vinho e potencial de evolução”, explica.
“É uma ciência que não é exata. Houve um dia que eu estava viajando com meu pai pelas estradas do interior e falei, me explica, se acontece isso, isso, isso, ai ele me respondia depende, mas se aconteceu isso, isso, isso, no vinho, na safra, está desse jeito, o que eu tenho que fazer? Ele me respondia depende. Então todas as respostas eram depende. Aí eu disse, meus Deus do Céu! você não sabe me dar nenhuma resposta?, porque eu preciso fazer um gerenciamento da planilha, preciso fazer gerenciamento de processo, trabalhar com todo o meu fundamento de administração, para que possa entender como é que vou seguir daqui para frente, no sentido de deu certo, ou deu errado. Em todas essas coisas que a gente busca entender e se adiantar, mas todas as respostas que eu tive foram, depende. Então, assim, o vinho precisa da madeira, depende, precisa de passagem para envelhecimento de carvalho, depende. A gente traz ele para complementar, porque sempre os astros dos nossos vinhos vão ser as uvas”, assegura.
Segundo Natália, uma uva muito sadia faz um excelente vinho, porém, de uma uva que não está tão sadia é impossível fazer um excelente vinho. É neste contexto que ela busca utilizar os artifícios enológicos, para complementar os seus vinhos, para que a intervenção seja minimamente aplicada, e que o vinho tenha sempre sua essência e identidade, que é a proposta da Cave Antiga. Ou seja, que o produto entregue ao consumidor mantenha sua identidade e sua essência.
Natália também trabalha nas vendas e, por isso, viaja para várias regiões do estado e do país, para levar a proposta da Cave Antiga e divulgar o município e os vinhos de Farroupilha. “As pessoas conhecem muito pouco do nosso município. A gente precisa fazer com que os turistas venham para cá, desfrutem da nossa cidade. Por isso vamos até eles e os convidamos para que, além de visitar a Cave, pernoitem em algum hotel da cidade, experimentem a gastronomia dos nossos restaurantes, comprem outros produtos, além do vinho, como as malhas de Farroupilha e conheçam os locais. A gente tenta sempre difundir a cultura da Cave Antiga, no sentido de promover nossa cidade”, enfatiza.
Por fim, a Cave Antiga é um local para um bom programa para quem passeia pela região, vai conhecer as experiências de enoturismo, com degustação e harmonização diferentes em que se conhece e experimenta vinhos e espumantes harmonizados, por exemplo, com chocolates da região. Também uma degustação premium para quem aprecia vinhos ou para quem deseja conhecer mais sobre a elaboração dos vinhos e suas etiquetas de degustação. A casa ainda proporciona que o visitante deguste a bebida que está armazenada nas barricas de carvalho francês, ainda em processo de evolução.