Casal cria plataforma de e-commerce para trocas e doações

Plataforma especializada em doações oferece objetos e serviços à disposição de quem opta pelo consumo consciente

Já pensou em simplesmente se desfazer de algo que você não esteja mais precisando? E, na hora em que necessitar algum produto ou serviço, poder ter acesso a isso de graça? Foi com esta possibilidade em mente que o casal Cristiane Santos Kapelius, 38 anos, e Demian Kapelius, 40, lançaram a plataforma AtraiA, em junho de 2016. É simples: você anuncia algo que queira doar, alguém com interesse irá te encontrar e vocês combinam a entrega, sem troca monetária. Semelhante aos grupos de troca do Facebook, a plataforma especializada em doações oferece objetos e serviços à disposição de quem opta pelo consumo consciente.
Segundo Demian, a ideia de desenvolver o projeto surgiu em 2014, enquanto ele navegava por lojas virtuais e sites de vendas de produtos usados. Ao ver uma diversidade tão grande de coisas que as pessoas colocavam a venda, lembrou de algo que ele mesmo havia vivenciado com sua família.
Em 19 anos, mudamos três vezes de estado. Nessas experiências, sempre tivemos que deixar parte das coisas em caixas, na casa de parentes, amigos. Muitas delas ficavam lá abandonadas, com o pensamento de quem um dia se voltasse a usar, coisa que nunca acontecia. É um desperdício, se pensarmos que essas coisas poderiam estar sendo usadas por outras pessoas. Esse pensamento nos fez prestarmos atenção em sites dedicados a produtos de segunda mão. Ao mesmo tempo, são opções que possibilitam a economia de dinheiro, e mais ainda em tempos de mudança, como era o nosso caso, explica Demian.
Porém, existem situações em que as pessoas precisam atender suas necessidades de consumo e não tem condições financeiras, ou por algum outro motivo, gostariam de poder adquirir sem ter que pagar por isso. Pensando nisso, começamos a pesquisar em países desenvolvidos, e notou-se que a cultura do desapego é bem difundida. A exemplo de países europeus e em Israel, que inclusive, as pessoas deixam objetos para doação nas ruas das cidades, o que ajuda muita gente. E com o incremento da internet, surgiram nesses países, plataformas dedicadas a isso, permitindo interações entre pessoas que não se conhecem, porém em grande escala. Com base nesses modelos, surgiu a ideia de desenvolver uma plataforma dedicada as doações aqui no Brasil. Para que possam ser compartilhados objetos e serviços gratuitos, completa.
Em junho de 2016, Demian e Cristiane lançaram o www.atraia.com. Outra possibilidade pensa pelo casal desde o começo, já que a publicidade seria uma das formas de arrecadar para a manutenção do projeto, era o de usar a plataforma para que as empresas que viessem a ser parceiras, pudessem usá-la para doação de produtos, também por ocasião de algum lançamento. Mas esta alternativa acabou ficando de lado, neste primeiro momento.
Logo no começo, soubemos do projeto de zona sustentável no qual Porto Alegre fazia parte e as inúmeras startups inseridas nesse conceito. Vimos um cenário cheio de pessoas engajadas, com ideias e oportunidades das mais diversas. E foi o que nos fez focar de início o compartilhamento de objetos e serviços gratuitos, doados por qualquer pessoa. Partindo do conceito colaborativo, consumo consciente e sustentável, afirma Demian.
Mas, e como funciona a plataforma? De forma muito simples, rápida e prática:

Quero doar
Para quem quer desapegar de coisas boas que estão guardadas e não serão usadas, é só entrar no site atraia.com e se cadastrar – é preciso nome, sobrenome e e-mail. Depois do cadastro feito os itens já podem ser catalogados nas diversas categorias disponíveis.

Quero receber
Quem entrar no site e se interessar por algum item, precisa preencher o formulário do produto correspondente e combinar com o proprietário a melhor forma de retirada. Não é cobrado absolutamente nada de quem se cadastra, anuncia doações ou simplesmente entra em contato interessado em algum anúncio. Aliás, qualquer pessoa tem acesso às doações sem precisar estar cadastrado.
Segundo Demian, percebe-se que é preciso trabalhar muito a cultura do desapego em nosso país. Fomos educados a sermos consumistas, a termos a posse dos objetos, de cada um ter o seu. Porém, hoje se tem a real noção dos efeitos negativos causados pela ineficiência no uso dos recursos naturais. Tendo como desafio a criação de ‘valor’ ao passarmos a atender nossas necessidades substituindo a ‘posse’ pelo ‘acesso’. Termos a percepção de que por exemplo, um mesmo objeto pode atender necessidade de diversas pessoas.
Outro desafio defendido por Demian é de como tornar o projeto sustentável a longo prazo, de modo que permita fazer esse trabalho de engajamento das pessoas, por práticas colaborativas, solidárias e de consumo consciente. Buscamos formas de poder estruturar outros formatos de atuação, para além do meio virtual, como eventos temáticos e atividades lúdicas em escolas.
O AtraiA, é convidativo a qualquer pessoa que tenha acesso a internet, pelo computador ou celular. Não há nenhum custo, nem necessidade de troca com outro doador. É totalmente livre para as pessoas compartilharem suas coisas. Aqueles que estiverem disponibilizando objetos ou serviços para doação, sabem que quando precisarem, podem recorrer ao AtraiA para adquirir o que estiverem precisando, ou se algo que está sendo oferecido, lhes interessa.
Importante salientar que muitas pessoas têm adquirido doações para atender pessoas de comunidades carentes, que não tem aceso a internet, que se encontram em situações de vulnerabilidade. Então, realocar os recursos, de onde são abundantes para onde são escassos, também é o propósito do AtraiA. Ou seja, entendemos que sustentabilidade e inclusão social, são coisas que devêm andar juntas. E é muito gratificante para gente, que nosso projeto tenha ajudado muitas pessoas. Mas é preciso fazer muito mais, salienta Demian.
Sobre a expansão para a Serra Gaúcha, Demian explica que desde o começo a ideia era na verdade, disponibilizar para todo o Brasil, mas o fato de estarem em Porto Alegre, os fez repensar, já que era preciso, de começo, participar de eventos culturais que acontecem na cidade, para divulgar, fazer exposição, disponibilizar doações próprias e explicar como funciona.
Pelo trabalho de divulgação nas redes sociais, houve muito interesse de pessoas de fora, querendo participar. Seja de outros estados e até países vizinhos. A receptividade foi tão positiva que pessoas do interior começaram a anunciar doações para suas regiões.
Então, depois de começarem o trabalho na capital, com boa repercussão de jornais e TVs, Demian e Cristiane começaram agora a difundir mais pelo interior do Rio Grande do Sul, para que cada vez mais pessoas se juntem a sua rede colaborativa.
Outro fator importante é estarem vinculados à zona de inovação sustentável, que tem como