Aprendendo em sala de aula a respeitar o diferente

Vice-presidente da Amdef, Débora De Aranha Haupt, proferiu palestra para estudantes sobre o preconceito em relação às PcD

Na Grécia antiga, os recém-nascidos eram mortos assim que se verificasse que tinham alguma deficiência. Sob a Alemanha nazista, Pessoas com Deficiência (PcD) entravam na lista de etnias e, ou, grupos sociais (como os judeus, os ciganos e os homossexuais) que o regime perseguia e buscava exterminar, com sua ação genocida. Hoje, o preconceito em relação às Pessoas com Deficiência segue existindo, ainda que de forma muito mais sutil, sendo traduzido por um conceito: ‘capacitismo’. O desafio de superá-lo envolve uma fórmula relativamente simples: promover permanentemente o convívio entre PcD e o restante da sociedade, para que este perceba que o diferente não é pior nem melhor – só é… Diverso, distinto, diferente.

São estas, em resumo, as premissas da luta anticapacitista, tema de palestra proferida segunda-feira , dia 10 de junho, pela vice-presidente da Associação Municipal de Deficientes Físicos de Farroupilha (Amdef), Débora De Aranha Haupt, para estudantes do Colégio Estadual Farroupilha. Assistiram à explanação mais de 50 alunos do terceiro ano do Ensino Médio do mais tradicional educandário farroupilhense, no centro da cidade. “O capacitismo é histórico, vem da estruturação da sociedade”, disse Débora. “Hoje, falamos muito que as cidades têm acessibilidade precária, mas, vejam só: o descaso em relação às Pessoas com Deficiência é antigo – na Grécia ou sob o nazismo, tratava-se de crueldade mesmo”.

A propósito de o preconceito ser muito mais brando hoje, a vice-presidente da Amdef, usuária de cadeira de rodas, resgatou vivências pessoais. “Tem uma frase que toda mulher cadeirante já ouviu: ‘Nossa, é tão bonita! Mas está presa em uma cadeira… Mas o fato é que, antes de sermos PcD, somos pessoas com capacidades, só que com limitações”, explicou. Para o estudante Cristian Vitor Souza, 17 anos, uma das conclusões centrais a partir da explanação foi a de que a própria escola “não tem muita acessibilidade”. Sobretudo, a lição principal foi a de que não se deve “ser capacitista, porque se pode magoar a pessoa com deficiência”.

No mesmo sentido, a aluna Fernanda Chiele Palaoro, da mesma idade, agradeceu pela oportunidade dada pela escola de “falar de uma causa que não pode ficar escondida, que tem que ser vista”. A palestra aconteceu dentro do projeto ‘Intervenção urbana: lambes no tapume do Moinho Covolan’, coordenado pelo arquiteto e designer Marcelo Covolan. Através da iniciativa, viabilizada com recursos captados por meio da Lei Paulo Gustavo, do governo federal, 16 painéis e dois grafites foram instalados nos tapumes em frente ao histórico prédio do Moinho Covolan. A mostra, com trabalhos dos artistas Angel Alaska, Ezequiel Pereira Veiga, Marcelo Covolan, Michel Gaffree e Pedro Emiliano Cappellari Bin, tem temática plural, desde a cultura ‘Black Power’ e antirracista até a ‘arte de periferia’ e o anticapacitismo, passando pelo ‘mero’ lirismo.

Para saber

Uma segunda abordagem sobre capacitismo está programada para a segunda semana de julho, na Escola Municipal de Ensino Fundamental Primeiro de Maio.

Falas capacitistas

Capacitismo, de acordo com Débora De Aranha Haupt, é um termo recente no Brasil. “A pessoa pode ser sem se dar conta, nem fazendo algo tão grave. Mas há expressões que podem magoar mesmo, e um primeiro passo da luta anticapacitista é fazer as pessoas perceberem que o que estão falando é algo negativo, carregado de preconceitos, fruto da ignorância”. Estas são algumas frases capacitistas das mais comuns, que toda pessoa com deficiência já ouviu – tal qual está ou com alguma pequena variação, que estão no painel criado pelo artista Ezequiel Pereira Veiga, no ‘espaço anticapacitismo’, no portão de acesso à extinta casa noturna Muinho Club, na rua Marechal Floriano Peixoto, que ainda pode ser conferida.

  • – “Ela é tão linda! Pena que está na cadeira de rodas…”
  • – “Ele está preso numa cadeira de rodas.”
  • – “Você precisa descansar? Mas você não faz nada!”
  • – “Você já tentou se levantar da cadeira de rodas?”
  • – “Ai, coitadinho! Que dó!”
  • – “Mesmo sendo surdo, você é tão inteligente!”
  • – “Coitada! Mas, olha, você vai arranjar alguém que te queira!”

Débora De Aranha Haupt, palestrante. Foto: Jair Antônio Angelin