Desvio Blauth é o berço da colonização alemã no município
Comunidade fez festa para comemorar os 200 anos da imigração
Mais de 700 pessoas participaram, no último domingo, 21 de julho, da festa organizada pela Comunidade Evangélica de Desvio Blauth, no interior de Farroupilha, região do município habitada por uma maioria de descendentes alemães. A festa teve a finalidade de comemorar os 200 anos da imigração alemã no Brasil, com uma programação que contou com culto religioso, palestra versando sobre a história da chegada dos primeiros alemães ao Brasil, almoço, apresentação de grupo de danças e, na parte da tarde, reunião dançante.
Na contabilidade do presidente da Comunidade de Desvio Blauth, Vilmar Haefliger, eleito para o cargo no ano passado para um mandato de dois anos (até 2025), foram cerca de 550 ingressos vendidos e aproximadamente outras 100 pessoas envolvidas na organização e execução do evento. Ele comenta que a festa de domingo teve uma importância singular porque, além de assinalar o bicentenário da imigração, atraiu um público variado, da área urbana e de outras comunidades interioranas.
“A gente leva o nome da nossa comunidade para todo o município e para as cidades vizinhas. É um almoço diferente, porque como é uma festa alemã, tem um cardápio diferente, típico da culinária dos imigrantes, como a salsicha bock, o chucrute e a batata a vapor, que não tem nos outros lugares. E isso atrai muitas pessoas que vêm nos prestigiar”, afirmou Haefliger. Segundo ele, a festa de domingo foi a única programada no Desvio Blauth para comemorar os 200 anos da Imigração.
Parte dos grupos que pilotaram as churrasqueiras, comandaram a cozinha e serviram as quase 700 pessoas que prestigiaram a festa de domingo na Comunidade de Desvio Blauth
Para lembrar os antepassados
Legado dos alemães-germânicos é importante não só para Farroupilha, mas para toda a região
O jornalista e escritor Felipe Kuhn Braun, vereador em Novo Hamburgo e estudioso da imigração alemã com 28 livros já publicados sobre o tema, foi o palestrante no culto evangélico celebrado no domingo, 21 de julho, na festa dos 200 anos da chegada dos imigrantes alemães ao Brasil, promovida pela Comunidade Evangélica de Desvio Blauth. Para Kuhn Braun, a importância da comemoração não reside apenas no fato de celebrar o bicentenário da imigração, mas tem é especial “por lembrar dos antepassados que fizeram muito para que estivéssemos aqui”.
De acordo com o parlamentar do Vale dos Sinos, integrante de várias instituições culturais – nacionais e estrangeiras – com raízes familiares fincadas em Farroupilha, a festividade no Desvio Blauth tem significado especial também porque lembra “a contribuição dos alemães para o desenvolvimento cultural e econômico, não só de Farroupilha, mas de quase toda a Serra Gaúcha. Assim como os italianos desceram a Serra, os alemães subiram e, hoje, acredito que, inclusive para o nosso município, quanto melhor conhecermos a história alemã, mais se complementará a nossa própria memória”.
Ele também considera que Farroupilha “tem uma história lindíssima da imigração italiana, e lembrar, como nesta festa, seu lado alemão-germânico, é um complemento importante, nao só para os descendentes que residem aqui no Desvio Blauth ou em Farroupilha, mas para a populão de um modo geral”.
Presença da fé dos luteranos
Para a pastora Haidi Leschewitz, da comunidade Luterana do Desvio Blauth, a festa do domingo tem relevância tanto pela lembrança dos 200 anos da imigração alemã, no Brasil, quanto para “resgatar a memória dos nossos antepassados. Tanto na questão cultural quanto no aspecto religioso porque, com eles, também chegou a fé Luterana ao Brasil”, afirmou. “Então, para nós, a comemoração é dos 200 anos da chegada dos primeiros imigrantes alemães ao Brasil, mas também dos dois séculos de presença dos luteranos no Brasil’, complementou a pastora da comunidade.
“A nossa colonização é diferente”
Um emocionado integrante da comissão organizadora da festa da Comunidade Evangélica de Desvio Blauth, realizada domingo passado no interior de Farroupilha para assinalar as comemorações do bicentenário da imigração alemã para o Brasil, o advogado Raul Herpich, comentou que o evento tem uma importância enorme para a população formada pelos descendentes dos alemães. “Não temos nada contra as demais colonizações, como a italiana, que veio depois, mas a nossa colonização é diferente”, afirma Herpich. E explica: “Porque vem do tempo do Império, de dom Pedro I, dona Leopoldina, que tinha uma origem germânica. Ela que tomou a iniciativa e sugeriu ao imperador que era preciso buscar gente de outro país para ajudar a defender as fronteiras do Brasil”.
Conforme Herpich, havia o que ele chamou de “sérios problemas no Sul do Brasil, onde as divisas territoriais configuravam um estopim para a deflagração de guerras, especialmente com a Argentina e o Paraguai. “E buscar onde estas pessoas? De Portugal, tínhamos nos separado (dois anos antes, em 7 de setembro de 1822), os franceses e holandeses vieram aqui só para explorar, e o poder central olhava só para São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. A solução adotada por dom Pedro foi mandar um emissário à Alemanha para que fossem trazidos soldados para defender as fronteiras do Brasil”, contou.
Justamente por isso, conforme o advogado, a imigração dos alemães foi diferente. “Da Itália vieram as famílias, que tiveram muitos problemas para desbravar a terra e se estabelecerem, mas da Alemanha vieram soldados que foram incorporados ao Exército do imperador para defender as fronteiras do Sul do Brasil”, afirma Herpich. Ainda segundo ele, a história conta que o navio que trouxe os primeiros jovens alemães demorou 90 dias para chegar à costa brasileira, e que os imigrantes viajavam em condições muito precárias. “Dom Pedro ordenou que os primeiros 39 homens alemães fossem enviados para o Rio Grande do Sul, então Província de São Pedro, desembarcando em São Leopoldo com a missão de ajudarem a defender o estado. Felizmente as guerras não saíram e as divisas se concretizaram”, disse.
Raul lembra que alguns dos soldados ficaram no Brasil, enquanto outros voltaram para a Alemanha. “Por exemplo meu bisavô, que veio para o Brasil com 19 anos de idade, como oficial… Ficou um bom tempo no Exército e depois foi para a vida privada. Mas como vieram só homens, como iriam casar? Ele se incorporou à sociedade na região de Dois Irmãos, no Vale dos Sinos, onde acabou casando”, comentou. E completa: “É uma bonita história, planejada por dom Pedro que se preocupou em trazer jovens, homens, solteiros, para proteger o Rio Grande do Sul. Por isso a história da nossa imigração é diferente”.
A festa da comunidade em fotos
Haefliger, com as bandeiras do Brasil, Rio Grande do Sul e Alemanha. FOTOS: Silvestre Santos e Jorge Bruxel
Terezinha Kleber, Valdecir Herpich e Neusa Pacini
Durante a festa: quem foi prestigiar o encontro alusivo aos 200 anos da imigração alemã teve direito a adquirir torta e sobremesa, como o sagu com creme de leite
REPORTAGEM
Silvestre Santos
silvestre@ofarroupilha.com.br