O “alemão” que cuida do acervo italiano

Casado com Beatriz Bérgamo, a bisneta de Stéfano Crippa, um dos primeiros imigrantes italianos a chegar a Nova Milano, Ilário Flach, descendente de alemães, cuida do Acervo da Bea com todo o carinho

“Nossos ancestrais são a razão da nossa existência”. Com essa frase, Ilário Flach iniciou uma carta – com a foto da família na qual ele aparece criança ao lado do pai Siegfriedo Theobaldo Flach, da mãe Maria Margarida Chassot Flach e dos oito irmãos (mais tarde ainda viriam mais três) – que seria entregue a algum parente. Guardou a carta junto a outros escritos redigidos por ele e que contam todo seu apreço à preservação da história familiar.

Ilario e Bea, “o alemão e a italiana”, juntos no resguardo de uma cultura

O neto de alemães é tão cuidadoso que ele mesmo tratou de catalogar e organizar os artigos deixados pelos antepassados de sua esposa Beatriz Bérgamo, bisneta de Stéfano Crippa, um dos primeiros imigrantes italianos a chegar a Nova Milano em 1875, e que estão expostos no Acervo da Bea, em Nova Milano.
O casal, Ilário e Beatriz, mora na construção de 1884, onde está o acervo. Um alemão cuidando dos pertences dos italianos! “Quando viemos ao mundo temos uma missão, um compromisso familiar do qual não se pode fugir”, é a resposta que ele dá à observação.

Seu Ilário não fugiu. Mantém, com toda a admiração e bom humor, os pertences que foram da família de sua esposa e que colocaram sua residência no roteiro “Farroupilha Colonial”. Mostra com orgulho o caderno de assinaturas no qual constam nomes de visitantes de todos os lugares do Brasil e do mundo, como da China e da própria Itália.

Os pertences identificados por número para a correta descrição, capricho do senhor Ilário
As flores em ferro, relíquia alemã, para dar as boas-vindas a quem chega

Não guardou a história apenas da família italiana da esposa, mas também registros com fatos de seus antepassados alemães, cujos primeiros imigrantes vieram de Gornhausen, região da Mosela. Chegaram ao Morro da Batata, em Alto Feliz.

Seu Ilario nasceu em Nova Milano. Casou-se em 1975, “no centenário da imigração italiana”, é pai de Maurício e Angélica e avô de Júlia e Theo. Antes de cuidar do Acervo da Bea tinha o armazém no mesmo local, o Flaber, de Flach e Bérgamo.

Entende a língua de seus antepassados e fala um pouco, com orgulho e olhos risonhos. Em meio a tantos objetos italianos, mostra as flores de ferro sobre a porta de entrada para desejar boas-vindas a quem chega. “Estas sim, alemãs”, enfatiza.

“Não viemos ao mundo para ser um número, mas para deixarmos um legado importante com as atitudes corretas”, conclui o descendente de alemães que fez e faz a diferença na propagação da história da imigração italiana.
Sorte a nossa ou melhor dizendo, wir glücklichen!

REPORTAGEM:
CLAUDIA IEMBO
claudia@ofarroupilha.com.br