Rotas sentem a falta de turistas e trabalham para atrair visitantes a Farroupilha
Silvestre Santossilvestre@ofarroupilha.com.br. Não há números, porque mensurar o prejuízo deixado no setor do turismo é impossível segundo as lideranças dos
Silvestre Santos
silvestre@ofarroupilha.com.br
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Não há números, porque mensurar o prejuízo deixado no setor do turismo é impossível segundo as lideranças dos dois principais roteiros turísticos de Farroupilha e região. O certo é que o caixa das empresas ligadas ao Roteiro Turístico Vale Trentino e à Terra do Moscatel – Rota Turística está raspado por conta da falta de visitantes. Os danos materiais não chegam a ser expressivos, e o trabalho de recuperação do setor vai demandar tempo. Muitos meses, na estimativa mais otimista.
Os problemas mais significativos se relacionam à insegurança. As pessoas ainda têm receio em viajar para a Serra Gaúcha acreditando que há risco de novos deslizamentos de terras e bloqueios das estradas. Outra razão é o fechamento do Aeroporto Salgado Filho, de Porto Alegre, principal porta de entrada dos turistas que vêm de outros estados e de fora do pais, que foi inundado e só deve voltar a operar no final do ano.
O presidente Rodrigo Gajardo, do Roteiro Vale Trentino, relaciona mais uma razão, a empatia. “Não tem como desfrutar qualquer atrativo turístico com uma tragédia em curso”, diz ele, confirmando que o movimento de maio foi “zero”. Durante todo o mês passado as empresas da região, ligadas ao enoturismo e ao turismo gastronômico e de compras, principalmente estes, não registraram visitantes diante da tragédia climática que atingiu praticamente todo o Rio Grande do Sul.
As pessoas deixaram de fazer viagens dentro do Rio Grande do Sul, e as de outros estados não viajaram por causa da interdição do Salgado Filho e dos deslizamentos de terras. “Foram acontecendo problemas logísticos importantes, vias que foram interrompidas por falta de condição de tráfego, barreiras em diversos pontos e constantes avisos de perigo de desmoronamento”, lembrou o presidente Gajardo. Ele não arrisca um prazo para o pleno restabelecimento do turismo, importante fonte de renda de hotéis, restaurantes, vinícolas e outros empreendimentos da região.
“Passando tudo isso, como associação, iniciaremos as tratativas para restabelecer todo o Vale da maneira mais rápida possível”, diz Rodrigo Gajardo. “As ações serão alinhadas com todos os associados e as prioridades serão direcionadas para quem não está operando. Em seguida veremos com o poder público as questões de infraestrutura danificada. Será necessário bastante trabalho, mas não deixaremos de restabelecer todo o Vale” reforça. Ele diz que várias operações estão funcionando a pleno, “e precisamos mais do que nunca de muitos visitantes, para que consigamos apoiar e ajudar quem precisa”.
Rota do Moscatel
A presidente Rosane Meggiolaro Cappelletti, da Associação dos Produtores de Vinhos, Espumantes, Sucos e Derivados (Afavin) que lançou no final de março o Terra do Moscatel – Rota Turística, concorda com os motivos que praticamente zeraram o movimento de visitantes, citados por Rodrigo Gajardo, da Associação do Vale Trentino. “Não tivemos problemas estruturais, mas no fluxo de turistas sim. A maior dificuldade é a redução considerável de turistas, na região, devido a todos os problemas que o estado enfrenta”, diz ela.
“Ainda estamos sem o principal aeroporto do estado e algumas rodovias importantes ainda têm problemas. Porém o fato que mais pesa nesse momento talvez seja o ânimo das pessoas em fazer turismo nestas condições”, destaca a presidente. Rosane entende que a recuperação do setor “é um trabalho que deve envolver todos agentes do turismo de Farroupilha e região. Precisamos que as pessoas se sintam seguras em visitar nossas empresas. É fundamental que saibam que a maioria dos acessos está liberada e segura, e que o turismo é importante, pois gera empregos e impostos, o que é relevante para a retomada e reconstrução do Rio Grande do Sul”, completa.
No Terra do Moscatel, de acordo com a presidente, os danos estruturais nas empresas associadas foram pequenos. “Mas muitos agricultores ligados às vinícolas sofreram perdas significativas em parreirais e nas estradas”. Mesmo assim, como forma de motivar os empreendedores e atrair a visitação, Rosane diz que as atividades programadas pela Rota Turística estão mantidas. “Seguimos com nossos eventos confirmados. O Festival do Moscatel vai ocorrer em agosto e setembro, e será uma grande oportunidade para os turistas perceberem que estamos trabalhando e empenhados para sair logo dessa crise”, anunciou a presidente.
Mirante destruído e cafeteria fechada
No mês de maio o Parque Salto Ventoso deixou de receber entre 8 e 10 mil pessoas, na estimativa do CEO do empreendimento, Andrei Dobner. O local foi reaberto à visitação no dia 25 passado, e segundo ele, o melhor acesso é pela estrada que passa por Nova Sardenha e Linha Müller. O maior dano no Salto Ventoso foi a destruição de um dos mirantes, atingido pela enxurrada no começo de maio. É o único local que está fechado aos visitantes. A reconstrução já está sendo planejada e vai exigir um investimento de cerca de R$ 100 mil.
Dobner não vê os problemas de agora como maiores que os enfrentados durante a crise da Covid-19. “A pandemia afetou o comercio global, em grandes proporções. O turismo propriamente dito, na pandemia, ficou seis meses parado, e agora somente um. A retomada é lenta mas, nesse momento, acho que será até mais rápida porque o povo está buscando formas de se ajudar, como o incentivo para compra de produtos gaúchos e muitas campanhas para não cancelar as viagens já marcadas, mas remarcá-las. Conforme vão sendo liberadas as estradas o turista, da região ou de fora do estado, vai se sentir seguro para viajar”, acredita ele.
Quem também teve problemas foi a Cafeteria Terroir 29, fundada em 2020 pelo casal Mateus Antônio e Camila Onzi Guareski, na localidade de Menino Deus, interior de Forqueta. O empreendimento é um dos que faz parte do Roteiro Turístico Vale Trentino e está fechado ao público por razões de segurança. É que uma queda de barreira destruiu a vínicola do irmão de Camila, Ismael Onzi, atingiu a casa da família e acabou com um parreiral.
Casa onde Camila mora foi parcialmente atingida. Família não pensa em voltar por medo de novos deslizamentos. Foto: Divulgação/Arquivo pessoal
Por medo de novos deslizamentos, as empresas não serão reativadas. “Provavelmente plantaremos alguma coisa na terra, mas para morar e reativar as empresas é muito perigoso. A terra que fica acima das construções está toda rachada, pode vir tudo abaixo”, diz Camila. Em funcionamento (apenas aos finais de semana) a Terroir 29 recebia cerca de 200 visitantes por mês, em média. Agora fechada, e com os danos causados pela chuvarada, a empresária calcula um prejuízo da ordem de R$ 300 mil.
Ação do governo municipal
A Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Inovação, do município de Farroupilha, está trabalhando (“de forma incansável”, segundo a secretária Eliane Dal Ponte) para que, ao lado dos empresários dos mais diversos ramos, Farroupilha volte a ser destaque em várias áreas, tendo o turismo local, que hoje é vendido em mais de 1.4 mil agências de todo Brasil, como carro chefe da retomada após o pior evento climático já registrado. Conforme Eliane, a retomada do turismo como fomento da economia passa por eventos tradicionais que motivem a população a estar nas ruas e no comércio. Ela cita o Vivere, que está mantido para a próxima sexta-feira, 14 de junho, a partir das 18h, com atrações de gastronomia, música e diversão no calçadão da Rua Júlio de Castilhos.
A secretária, que tomou posse no começo desta semana, relaciona várias ações que estão em andamento como forma de ajudar o empresariado do setor a superar as dificuldades provocadas pelas chuvas de maio. Entre elas, cita o apoio ao Conselho Municipal do Turismo (Comtur) na criação e divulgação da Campanha Acolha Farroupilha – Turismo Solidário. O objetivo é promover uma intensa divulgação dos pontos turísticos para criar o desejo e a curiosidade, da própria comunidade, em visitar Farroupilha e o interior.
Secretária Eliane Dal Ponte diz que a administração municipal está trabalhando ao lado dos empreendedores do setor de turismo de Farroupilha. Foto: Cristiano Lemos/PMF
O que está sendo feito
- – Um levantamento, por meio de formulário on-line, dos empreendidos atingidos, direta ou indiretamente, pelas chuvas que atingiram o município.
- – A mediação e apresentação, aos empreendedores, do Fundo Geral do Turismo (Fungetur), que é uma linha bancária de financiamentos para a retomada do setor no Rio Grande do Sul.
- – A regionalização das informações através de reuniões com a Atuaserra.
- – A criação de um mapa de todos os 149 empreendimentos turísticos cadastrados junto à secretaria e que aponta rotas alternativas às estradas bloqueadas