Chuvarada: dirigente empresarial diz que “a pandemia foi só um treino”

Silvestre Santos
silvestre@ofarroupilha.com.br

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Guardadas as proporções de um evento global como foi a pandemia da Covid-19, que dividiu o planeta, isolou países, separou famílias e provocou a morte de centenas de milhares de pessoas mundo afora, o flagelo causado pelas fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul a partir do final de abril e na primeira semana de maio, mais duramente, é ainda pior. Muito pior. A opinião é do presidente da maior entidade representativa do empresariado da Serra Gaúcha, o CIC-Serra, Daniel Bampi. “Para nós, gaúchos, é uma situação mais complexa porque é um desastre natural muito grande, que atinge muitas famílias, negócios, empresas, e cria uma dificuldade econômica gigantesca”, avalia, sem citar números

Bampi lembra que já são milhares de famílias desabrigadas e desalojadas, a grande maioria sem ter para onde voltar porque as águas levaram suas casas, e que perderam muitos bens pessoais e materiais como móveis e eletrodomésticos, roupas e calçados, entre outros. “Muita gente perdeu a história de suas famílias, e são muitas as histórias que podem ser retratadas. Temos regiões devastadas, onde os rios mataram animais, acabando com produções de frangos, ovos, avestruz, suínos, leite, gado, arrastaram lavouras de uma forma devastadora”, disse o dirigente empresarial.

Os danos causados pelas fortes e persistentes chuvas que caíram sobre praticamente todo o Rio Grande do Sul por quase duas semanas, sem parar, causando queda de barreiras, desmoronamento de morros que acabaram com estradas, e enchentes que destruíram pontes e inundaram e destruíram cidades inteiras, são “muito mais graves do que toda situação de dificuldade econômica que a pandemia (da Covid) causou”. O que agrava o quadro é que a tragédia climática de agora não apenas lota os hospitais, como foi na pandemia. Ao contrário, alaga e impede que serviços de saúde sejam prestados.

Outro fator que Bampi considera crítico é a destruição de estradas, pontes e pontilhões, que limitam o ir e vir das pessoas e, principalmente, prejudicam a logística de abastecimento de itens de necessidade básica para cidades inteiras. Para o empresário, é um momento muito difícil que projeta um longo período de tempo para, pelo menos, avaliar, planejar o que fazer e iniciar a reconstrução. Sem contar, alerta, que “as águas ainda estão em níveis muito elevados na maioria dos rios, o que prolonga o sofrimento das famílias e a incerteza sobre o futuro social e econômico do estado”.

Daniel Bampi salienta que o quadro atual impede até mesmo uma expectativa sobre quando as famílias, hoje desalojadas e desabrigadas, poderão voltar para suas casas, se terão casas para voltar, como vão se alimentar e até se terão o que vestir. “Hoje temos um quadro gigante de pessoas ajudando e doações que vêm de todos os lugares, uma solidariedade enorme. Mas não sabemos até quando isso vai e, depois que cessarem o trabalho voluntário e as doações, como vai ser? Vai ter emprego? Muitas empresas foram devastadas, não têm sequer equipamentos”, alerta.

O que virá depois que as águas baixarem, na opinião de Daniel Bampi, vai exigir muito mais do que a sociedade fez, e está fazendo, até agora. “Vai ser um espaço de tempo que exigirá muita união, compreensão, de toda sociedade e dos entes públicos, administradores das esferas municipal, estadual e federal”, recomenda, lembrando que será “um longo período de recuperação, com priorização inevitável para obras essenciais de logística, como pontes e estradas. Vai ser uma longa caminhada que teremos que percorrer”, disse.

“A pandemia foi, de certa forma, um treinamento para que, agora, a gente enfrentasse tudo isso que está acontecendo” – Daniel Bampi, presidente da Associação das Entidades Representativas de Classe Empresarial Gaúcha (CIC-Serra).

Covid-19

Sobre a comparação com a Covid-19, iniciada em 2019, com ápice e crise econômica nos anos de 2020 e 2021, provocada pelas regras de isolamento para evitar a contaminação, Bampi lembra que “as pessoas tinham acesso às suas casas, estavam em casa e tinham alimentação e muitos dos serviços essenciais. Indústrias e comércios continuaram em atividade, embora com restrições, sem perdas como as que foram causadas pelas enchentes. Agora a situação é diferente e muito mais grave porque os reflexos sociais, causados por uma inevitável crise econômica, ainda não são possíveis de ser mensurados, avaliados, quantificados”, conclui o presidente do CIC-Serra.