O início da trajetória de um profissional como poucos
A vida de conquistas do médico Edson Luiz Doncatto é extensa e significativa e talvez não coubesse em uma edição inteira de jornal. Mais do que falar sobre elas, o intuito é falar sobre ele, o homem que aos 70 anos ainda escuta seus pacientes, olhando nos olhos e dando toda a atenção necessária
Existem pessoas que são verdadeiros profissionais em suas áreas de atuação, sendo donas de tanto conhecimento que apenas um texto jamais cumpriria a missão de retratar, com fidelidade, tamanha grandeza. Por onde começar a falar de alguém que possui um currículo com 30 páginas? Para entender a trajetória do médico sócio fundador e primeiro presidente da Sociedade de Médicos de Farroupilha, a Farmed, em 1987, voltamos – de carona em sua memória privilegiada – ao início de sua vida adulta, que o Dr. Edson Luiz Doncatto relata com riqueza de detalhes.
Nascido em São Marcos no dia 22 de janeiro de 1953, o mais velho dos quatro filhos do senhor Léo e da dona Hercy conta que desde cedo queria ser médico.
Aos 12 anos foi mandado pela mãe, que trabalhava em malharia, a um internato em Ana Rech. “Foi a melhor coisa que minha mãe pôde fazer por mim na época, pois aprendi hierarquia, disciplina, respeito, muito estudo e prática esportiva. Lá alinhei meu caminho”, enfatiza.
As dificuldades econômicas o tiraram da instituição e o menino então, foi trabalhar durante o dia e estudar à noite, no colégio Cristóvão de Mendonza, em Caxias do Sul.
Auxiliar de escritório aos 18 anos, aprendeu muito na empresa que trabalhava, adquirindo conhecimentos de contabilidade, setor pessoal, controle de custos. Dona Hercy, ciente do desejo do filho em cursar Medicina, saiu em busca de uma bolsa de estudo no pré-vestibular Mauá, em Porto Alegre. Na conversa, os conhecimentos do jovem, chamaram a atenção e ele conseguiu mais que o curso, conseguiu o emprego no próprio cursinho. “Peguei meus pertences, uma calça marrom, uma blusa vermelha e coloquei dentro de uma sacola da Pepsi e fui, pois não podia perder aquela oportunidade”, detalha.
Naquela nova oportunidade, muito era delegado a ele, já que se mostrava extremamente responsável e comprometido. Com os estudos, o sonho estava prestes a se realizar. Entrou no curso de Medicina, na Universidade de Caxias do Sul, para onde voltou. “Comecei o curso lá, meu tio foi avalista do empréstimo universitário, da Caixa Econômica Federal, mas eu precisava trabalhar para pagar a faculdade, foi quando fui parar em um escritório de contabilidade. Naquela época, em 1972, conheci Irma, minha esposa”, conta o médico.
Aberto às possibilidades que se apresentavam, aceitou dar aulas particulares de Química, Física e Matemática e como nada é por acaso, o contato com as disciplinas renderam notas altíssimas no vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde cursou do terceiro ao sexto ano de Medicina. Finalizou a faculdade em 1977 e fez dois anos de residência médica em cirurgia geral, na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
Casou-se em 1979 e em 1980 nascia a primeira filha, Nádia. Com o tempo aumentariam a família os filhos Natália, Vanessa e Vítor, que está seguindo os passos do pai na mesma especialidade. “É uma alegria muito grande”, complementa o progenitor orgulhoso.
Farroupilha
Naquele início dos anos 80, começou a trabalhar no hospital Cibelli, mas o objetivo era voltar ao local de nascimento. “Consegui um credenciamento para São Marcos e lá fui eu”. Ficou por quatro anos e meio na terra natal e a partir de 1983 passou a atender na Agência da Previdência Social de Garibaldi, três vezes por semana, onde passou no concurso para Clínico Geral, vinculado ao Ministério da Saúde. Mais tarde passou a atender na agência da Previdência Social de Farroupilha.
Em 1984, num congresso de Cardiologia, encontrou o Dr. João Rossler que sugeriu que o médico voltasse a trabalhar em Farroupilha – sugestão que, segundo ele, o deixou entusiasmado pela possibilidade de retorno ao Hospital Cibelli, por onde já havia passado e, portanto, conhecido o ritmo de trabalho do cirurgião Dr. Francisco Fontanella, e onde todos os dias havia procedimentos cirúrgicos.
Contou com o apoio e incentivos dos colegas do corpo clínico do Hospital Cibelli, em especial do Dr. Nelson Messinger, Dr. Edison Rossler e Dr. Jayme Romeo Rossler, conforme conta.
Em 1985 chegou à cidade e ficou, onde atua até hoje em seu consultório na Rua Independência, 479, sala 21.
Dentre os inúmeros cargos expressivos que ocupou – e ações significativas como trazer sucursal do IML – sua história na cidade iniciaria também um capítulo importante, no qual seu protagonismo o levaria a palestrar e a participar de grandes simpósios: o cooperativismo, no qual ingressou quando se tornou médico cooperado da Unimed Nordeste, em dezembro de 1984. Em 2001 foi eleito presidente do Conselho da Unimed e depois voltou a fazer parte do Conselho.
“As pessoas precisam umas das outras para atingir seus objetivos e isso não faz com que percam sua individualidade, o que se promove é a equidade, que é igual a justiça”, ensina.
Por se tratar de algo significativo na vida do Dr. Doncatto, o cooperativismo rende reportagem à parte. Aguarde.
Hoje não opera mais, mas dedica-se à endoscopia digestiva com toda a experiência dos seus anos de atuação. “Não opero mais, mas a cabeça está sempre em atividade com várias ideias e projetos que visam o bem coletivo”.
Esta última frase explica também as opiniões que tem a respeito da cidade que escolheu para viver. “Devíamos ter um grupo de pessoas, como se fosse um Conselho Comunitário, livre, participaria quem estivesse interessado e que pudesse sugerir ações para quem está gerindo o município, sempre com atenção especial aos humildes, porque é bom lembrar que as pessoas precisam basicamente de três coisas na vida: um local de trabalho, um lugar para morar e serem chamadas pelo nome, para não serem consideradas um peso social”, diz, sem esconder a veia cooperativista.
O médico, dono do extenso currículo, divide o segredo que possibilita as respostas positivas da vida: “Estar aberto, dizer sim! As oportunidades aparecem, esteja atento; escute, anote, anote pensamentos. Ideias todos têm, mas os que tomam a iniciativa são poucos”, finaliza, com a peculiar sabedoria, este primeiro encontro, do qual confesso que saí embevecida diante de tanto conhecimento sobre tudo. A dedicação tem sua recompensa.