O recomeço que nasce da coragem
A dona da Joice Modas, na Galeria Central no centro da cidade, passou 25 anos trabalhando no campo e quando a vida pessoal desandou, virou dona também do seu destino, seguindo o caminho que escolheu para si
Estamos cercados de pessoas que são donas de histórias repletas de mensagens inspiradoras. Há pouco tempo, em um evento na cidade, conheci a Joice Maldaner, da Joice Modas, da galeria central. O breve contato fez nascer o interesse pela mulher que saiu da feira do agricultor para as feiras de moda, numa transformação que deu novo rumo à vida. Para que esperar a chegada de uma data que justifique o relato? Temos o agora.
Nascida em Bom Princípio, a menina que trabalhava no comércio com a mãe casou-se aos 17 anos e foi morar na linha Ely, onde aprendeu a lidar com a terra e a viver do fruto dela. Ficou na colônia por 25 anos, teve dois filhos, Felipe e Gabriel.
Em 2021 passou pelo segundo grande recomeço: o fim de seu casamento. Mudou-se para o centro da cidade, providenciou sua carteira de trabalho (documento que não possuía até então) e foi batalhar pela nova pessoa que queria ser. “Era uma vida nova em todos os sentidos! Por indicação consegui um trabalho temporário no Golden Shoping e fui aprender a lidar com computador, com notas, tudo um bicho de sete cabeças, muito diferente daquilo que eu estava acostumada, ”, relembra a mulher que aos 45 anos fez o comércio voltar a correr em suas veias.
Depois disso a ousadia em virar sacoleira, indo a São Paulo comprar roupas para revender, especialmente para as mulheres da localidade onde passou as últimas décadas. “Fazendo as contas, resolvi abrir uma loja, que primeiro foi em um espaço no salão da minha cabeleireira e há um ano nesta galeria”, conta Joice.
Da roça para o comércio, se lançando às preocupações típicas de quem escolhe o trabalho. “No campo o cansaço era físico; no comércio o cansaço é mental! Mas o tempo na colônia me ensinou muito. Nós vendíamos lenha até descobrir que o carvão dava mais lucro, então passamos a produzir carvão. Era assim: não dava de um jeito, inventava de outro, fazia e refazia. Hoje, uso isso na loja, invento até conseguir”.
Para cumprir o objetivo, Joice enfrenta viagens que levam mais de 50 horas para as compras em São Paulo. Vai e volta na certeza de agradar sua clientela, que cresce com a propaganda boca a boca, na qual o atendimento dela se destaca.
Hoje tem um novo amor, João César, e juntos formam uma nova família. Conquistas que nasceram de algo fundamental: a coragem. “Vivo muito bem com menos, hoje. É preciso ter coragem para abrir mão das coisas porque quem quer sair de um relacionamento, normalmente perde financeiramente”, analisa.
Sente falta apenas de algo que não encontra na cidade: “a paz do campo”, segundo ela, porque de resto sabe que agora está no controle de sua vida, mesmo tendo, vez ou outra, os pés inchados pelas viagens para fazer girar sua loja de moda feminina, onde o plus size movimenta quase 80% dos negócios.
A mulher que transformava lenha em carvão, agora transforma roupas em amizades. Lucro contabilizado, aqui e ali.
A coragem de agir tem suas recompensas.
REPORTAGEM: Claudia Iembo