O maior dos presentes
Natal é época de celebrar a fé, de confraternizar,
de presentear. O maior dos presentes dinheiro algum pode
comprar. É o que nos torna todos iguais
Ele ganhou o maior dos presentes: uma segunda chance de vida! Aos 27 anos, Thiago Höckele enfrentou seu maior desafio pessoal e venceu a guerra contra a Encefalite causada por uma bactéria que o levou ao coma induzido por 10 dias. Pesadelo superado, ele voltou a fazer o que ama: vestir-se de Papai Noel para encantar as crianças na noite de 24 de dezembro.
Há três anos, o Jornal O Farroupilha, às vésperas do Natal, contou a história do pai de Thiago, Heitor, que começou a se vestir de Papai Noel em 1971 e acabou passando a missão para seu filho numa continuidade à magia que a família preza com tanto carinho.
Unidos em seus gostos, os Höchele estreitaram ainda mais os laços que existem entre eles quando enfrentaram, juntos, a doença repentina de Thiago. O pai Heitor, a mãe Iara e a irmã Taís viveram um pesadelo, que terminou graças também à equipe de profissionais comandada pelo neurocirurgião de Caxias do Sul, Dr. Rodrigo Zan.
O mal
Dono de um vozeirão potente, Thiago participou da formatura do curso de radialista, no dia 30 de março. Naquela noite, ao discursar ao microfone, pediu desculpas pela voz, comprometida pela dor de garganta que sentia.
No dia seguinte, com muita febre e dor, pediu para ir ao pronto socorro. Esta é minha última lembrança, comenta o moço.
Os pais de Thiago contam que depois daquela noite na Unimed, começaram as convulsões e a necessidade de ser transferido para Caxias do Sul. A desconfiança era de que ele estava com Meningite. Disseram-me que o estado dele era muito grave e que se saísse daquilo certamente ficaria com sequelas, disse a mãe.
Foram dias de muito sofrimento porque o quadro se agravava com o comprometimento de outros órgãos de Thiago, em coma induzido para o combate à bactéria.
‘Nós voltávamos para casa só para dormir, não queríamos ficar sem ele, era muito difícil. Na UTI podíamos passar apenas meia hora com ele. Foi desesperador, lembra o pai, revivendo um pouco da angústia daqueles dias.
Eu chorava ao lado dele e as enfermeiras diziam para eu não fazer aquilo porque ele podia sentir, mas eu simplesmente não conseguia, acrescenta Iara.
O pai não esconde a emoção ao lembrar que comentou com Thiago uma vitória do Grêmio e o moço, entubado, cheio de fios, apertou a mão dele. Pai e filho trocaram olhares marejados à menção da lembrança.
Três meses antes, Heitor havia feito um plano de saúde para o filho e acredita que a família teve sorte até na assistência prestada.
A reação
Tenho uns flashes de memória de quando começaram a reduzir a medicação. Lembro de acordar e estar amarrado à cama, cheio de fios, com tubos no nariz e na garganta. Fui escorregando na cama para poder me livrar do tubo na garganta, relata.
A volta à consciência foi estranha, segundo Thiago, pois ele havia parado lá no dia 31 de março. Sentia-me tonto, confuso e estranhei acordar sem barba, conta, explicando que foi preciso retirar a barba para o acesso à jugular.
Cinco dias depois, a família estava completa em casa.
O susto vivenciado por eles uniu ainda mais a família, que experimentou o poder da fé, fortalecida pelas orações de amigos e conhecidos. Numa hora como esta não existe religião. A gente sente de verdade que existe uma força espiritual que nos guia, reconhece Heitor.
A frase conclusiva de Thiago entrega muito do sentimento que eles têm entre si. Agradeço por ter sido comigo. Eu não aguentaria ver um da família naquela situação.
O Natal
Mal vencido, Thiago retomou os planos. Abriu uma oficina de cuteleiro e ainda paquera a área de comunicação. Continua em tratamento com medicamentos e está feliz da vida com a oportunidade de levar alegria às crianças na véspera de Natal.
Com a agenda repleta de visitas contratadas, o moço está vivenciando a satisfação que a paixão pelo Natal lhe traz. Restaurou o presépio da Igreja Matriz com a inclusão de uma fonte, refez o presépio de sua casa e está desfilando uma nova roupa de Papai Noel, confeccionada com carinho em cada detalhe.
Chego para a ceia em família lavado de suor e feliz, recompensado. Não faço isso pelo dinheiro, faço pelo amor que tenho pelo Natal e por ver as crianças encantadas. Essa magia deve durar para sempre, diz Thiago, que aprendeu com o pai o respeito pela inteligência e pela sensibilidade das crianças.
A vida é cheia de mistérios e alguns episódios acontecem sem que consigamos realmente entender o porquê. Quando o pior passa, fica a gratidão pela oportunidade do recomeço. Ganhei uma segunda chance, afirma Thiago.
Este Natal terá um sabor ainda mais especial para os Höckele, que estão celebrando o presente que ganharam. Do papai do céu.
*Telefone para contratação
do Papai Noel: (54) 9 9683-3095